Estranhos domínios : objetos voadores não identificados na História política do Brasil (1945-1969)

Abstract

Esta tese tem como tema investigar como que óvnis (objetos voadores não identificados) mobilizaram as Forças Armadas, o Estado e a sociedade brasileira. No intuito de melhor esclarecer a proposta da pesquisa, apresentaremos um balanço do atual estado da arte das pesquisas acadêmicas relativas ao tema, com o fito de ressaltar uma proposta epistemológica integradora. Além disso, na forma de uma pesquisa temática e introdutória, apresentaremos uma pesquisa cronológica das fontes da Força Aérea Brasileira presentes no “fundo óvni” do Arquivo Nacional, ao destacar, numa perspectiva de longa duração, os aspectos centrais de uma história política institucional. Concomitante, apresentaremos também o debate presente na literatura especializada da área, destacando as inflexões teóricas próprias do campo ao longo das décadas. Dando prosseguimento a esses estudos introdutórios, ressaltaremos, de forma mais detalhada, as primeiras fontes militares sobre óvnis que ocorreram durante a Segunda Grande Guerra, abrindo espaço, em seguida, para uma investigação do contexto histórico da “primeira onda de discos voadores” de 1947 nos EUA. Por outro lado, no Brasil, discutiremos como que a imprensa, o Estado e as Forças Armadas lidaram com os relatos sobre óvnis mais relevantes da década de 1950, em notícias que mobilizaram toda a sociedade nacional. Ainda na década de 1950, discutiremos como que durante os primeiros anos da corrida espacial e no auge dos testes atômicos, eventos relacionados a óvnis passaram a incluir situações díspares, como a abdução e as experiências de contato, indo muito além de meras observações de óvnis nos céus. Por conseguinte, a pesquisa ressaltará a história de um escritor que durante o regime militar liderou uma seita que associava discos voadores com eventos bíblicos e com a Guerra Fria. Nesse caso, destacaremos a história do “primeiro contatado brasileiro” e sua especial relação como informante do governo, além de executor de atípicas operações de guerra psicológica, na forma de atentados terroristas de falsa bandeira, no conturbado período que antecedeu a efetivação do regime ditatorial, em 13 dezembro de 1968. Por fim, a pesquisa abrirá espaço para reflexões entre os eventos investigados nos capítulos, sob o prisma de conceitos como “manipulação cultural”, “criação de falsos cenários”, “guerra psicológica” etc., inseridos numa reflexão abrangente, a contar com contribuições teóricas do atual estado da arte da pesquisa especializada sobre o tema, tendo em vistas as possíveis contribuições que esse estudo tem a oferecer à História e às ciências humanas no geral.