Minha casa não é mais a mesma: mudanças das dinâmicas familiares na perspectiva das crianças em processo de escolarização

Abstract

As consequências da crise sanitária de COVID-19 sobre os processos psicológicos das pessoas e seus modos de viver ainda são objeto de estudo pelas ciências sociais. Entretanto, uma revisão bibliográfica narrativa, realizada para esta dissertação, aponta para a lacuna de trabalhos relacionando as consequências advindas desse cenário para as crianças no ambiente escolar. O presente trabalho utiliza o momento pós-pandêmico como linha temporal histórica para analisar a relação casa – escola, com o objetivo de investigar as narrativas de crianças em relação às reconfigurações familiares vivenciadas por elas em processos de escolarização, na perspectiva de um grupo de cinco estudantes do 3º ao 5º ano do ensino fundamental I, no retorno à escola de forma presencial. Sob o olhar da Psicologia Cultural, o trabalho compreende família como um ser coletivo que partilha experiências, signos e cultura a todo momento em contato com os indivíduos — que, embora também façam parte desse sujeito coletivo, são subjetivos e possuem outras aprendizagens fora do seu núcleo familiar. A pesquisa empírica utilizou uma metodologia qualitativa, orientada pelos seguintes objetivos específicos: (1) Analisar as informações fornecidas pela orientadora educacional e pela pedagoga do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem (SEAA); (2) Analisar as narrativas das crianças sobre suas respectivas famílias, em situação de diálogo no grupo focal mediado pela leitura de livros infantis previamente selecionados; (3) Investigar a(s) relação(ões) entre as mudanças nas dinâmicas familiares e a vida escolar do grupo pesquisado. Foram realizadas sessões de grupo focal com as crianças e entrevistas semiestruturadas com as pedagogas. Mediante a análise das narrativas na comunicação oral e escrita das crianças, os resultados indicam que é possível identificar diferentes posicionamentos de si, e até significações divergentes entre irmãos acerca da relação entre a experiência de ruptura familiar e a vivência escolar. Observou-se que as reconfigurações familiares interferem com o rendimento escolar apenas em alguns casos. Em outros, os processos socioemocionais implicados nas mudanças domésticas podem levar a criança a se vincular à escola de variadas formas. Os resultados mostram a necessidade de novas produções científicas que abordem o tema sendo capaz de compreender os novos contextos vivenciados pelas famílias e crianças pós-pandemia.