A subjetividade nos mundos semióticos de Haruki Murakami : leitura a partir da teoria de C. S. Peirce

Abstract

Haruki Murakami (1949) é um autor japonês cujos livros são um sucesso notável de venda tanto em seu país natal quanto no resto do mundo. Suas histórias carregam descrições do cotidiano, que são facilmente conciliáveis com as experiências dos leitores, aliadas a um tom surreal que transforma praticamente sua obra em um tipo de realismo mágico que discute vários temas relacionados à forma como a modernidade se impõe nos sujeitos. Seja em seus ensaios, contos ou romances, Murakami está sempre trabalhando temas que dizem respeito à forma como um sujeito pode compreender-se e o que isso pode significar sobre a realidade em si mesma, o que incorre em uma leitura psicanalítica e psicologizante de sua obra, a qual sobrevoamos e percebemos como uma leitura dualista. A partir dessa contextualização de como Murakami é lido tradicionalmente, essa dissertação se propõe a pensar uma nova concepção de sujeito, uma subjetividade que não deriva da tradição filosófica moderna iniciada pelo cogito cartesiano, mas uma ideia de sujeito proposta a partir das reflexões de Charles Sanders Peirce (1839-1914), filósofo, lógico e cientista estadunidense, sobre o self. Baseando-se em Peirce, é possível pensar uma concepção de self semiótico, em que a subjetividade não é puramente individual, mas pode ser pensada coletivamente e cujo caráter é plástico, não estático. Essa argumentação defendendo uma concepção de self semiótico torna-se base para que seja feita uma leitura de um dos mais conhecidos romances de Haruki Murakami, 1Q84 (2009-10), à luz dessa nova possibilidade para entender os sujeitos. Os personagens e a história são interpretados a partir do pensamento de Peirce, propondo uma leitura de Murakami que não é a usual, na qual busca-se a continuidade e não a ruptura entre os personagens e seus mundos.