O que passou e o que ficou : vivências de estudantes durante o ensino remoto emergencial e no retorno para o presencial

Abstract

O isolamento social decorrente da pandemia da covid-19 desencadeou diversas mudanças no cotidiano das pessoas ao redor do mundo. No campo da educação, foi implementado o Ensino Remoto Emergencial (ERE), que consiste na transposição das aulas presenciais para a modalidade online. Essa mudança repentina e sem precedentes mobilizou uma série de transformações na ação de aprender que pode ter reverberações no futuro da educação. O objetivo desta pesquisa foi investigar as vivências de estudantes de pós-graduação stricto sensu, mestrado, durante o ERE e no retorno às aulas presenciais. Fundamentamonos na Psicologia histórico-cultural de Lev Semionovich Vigotski [1896-1934] e utilizamos o método da Análise Temática reflexiva em nível latente. A pesquisa de campo foi feita com três estudantes do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar da Universidade de Brasília, e realizamos três entrevistas individuais com cada um(a) e uma dinâmica grupal. Como resultado, construímos três temas que agregam significados produzidos pelo grupo que foram significativos para compreensão e análise das vivências durante esse período. No primeiro tema, intitulado “Parece que eu era atropelada em todo momento”: vivências durante o isolamento, discutimos principalmente as emocionalidades produzidas durante o isolamento, marcadas por angústia, solidão e adoecimento. No tema seguinte, nomeado “Foi muito desafiador. Até hoje corro atrás dos prejuízos”: adaptações e desenvolvimentos na ação de aprender, abordamos a ação de aprender principalmente durante e após o ERE, bem como as mudanças, adaptações e desenvolvimentos. Em “Deu pra tirar leite de pedra”: repercussões das vivências do isolamento e do ERE, último tema, aportamos a capacidade dos(as) estudantes de gerar novas aprendizagens e possibilidades em contexto de muitas dificuldades e sofrimentos. Finalmente, enfatizamos a centralidade da escuta e do diálogo para a construção dessa pesquisa e fazemos recomendações para futuras pesquisas e para profissionais que atuam no ensino superior, principalmente na pós-graduação.