Micobiota endofítica de seis espécies lenhosas do Cerrado : efeitos da planta hospedeira e da adição de nutrientes ao solo

Abstract

O Cerrado é a maior savana tropical seca da América do Sul e um dos lugares mais biodiversos do mundo. Grande parte da biodiversidade desse bioma está na fitofisionomia, que abriga mais de 7.000 espécies de plantas endêmicas. As plantas do Cerrado, por sua vez, representam um importante nicho para fungos endofíticos. Os fungos endofíticos são micro-organismos que, durante parte ou todo o seu ciclo de vida, colonizam o interior do tecido vegetal sem causar sintomas de doença. Esses micro-organismos estão intimamente relacionados com seus hospedeiros, de modo que a colonização não é acidental, mas um processo especializado que evoluiu ao longo de milhões de anos e depende de uma complexa rede de interações entre fungo-planta, fungo-fungo, plantaambiente e fungo-ambiente. O conhecimento sobre a diversidade de espécies de fungos endofíticos do Cerrado é limitado. Deve-se considerar que estudos cujo foco foi descrever a diversidade de fungos endofíticos relacionados às espécies vegetais deste bioma utilizaram métodos dependentes de cultivo, limitando a fração de fungos facilmente cultivados nas condições testadas. Tomando essas questões como ponto de partida, testamos como os fatores de identidade da planta hospedeira e o tipo de fenologia foliar (fatores bióticos) influenciam a diversidade de espécies fúngicas do micobioma endofítico foliar das hospedeiras Caryocar brasiliense, Dalbergia miscolobium, Leptolobium dasycarpum, Qualea parviflora, Ouratea hexasperma e Styrax ferrugineus; e o efeito da adição de nutrientes ao solo a longo prazo (fatores abióticos) sobre a micobiota endofítica foliar de C. brasiliense e O. hexasperma utilizando métodos dependentes e independentes de cultivo (metabarcoding). Em ambas as metodologias, foram observadas diferenças entre o micobioma endofítico dos hospedeiros para todos os experimentos. Metabarcoding e cultivo mostraram que Ascomycota é o filo dominante. No entanto, o metabarcoding mostrou que, embora os ascomicetos sejam mais abundantes, eles não são o único filo presente na micobiota endofítica desses hospedeiros. Outros filos como Basidiomycota e filos recentemente propostos foram relatados em mais de um hospedeiro em ambos os três experimentos. Uma porcentagem considerável das sequências metabarcoding foram classificadas apenas ao nível de reino Fungi, sugerindo que o micobioma endofítico desses hospedeiros pode abrigar grupos taxonômicos ainda não conhecidos. Os fatores de identidade e fenologia foram importantes determinantes da diversidade e abundância relativa de cada espécie no micobioma endofítico. No experimento de adição de nutrientes ao solo as maiores diferenças quanto à composição taxonômica do micobioma endofítico foram observadas nos tratamentos com calagem, com fósforo e com nitrogênio. Em relação ao cultivo, mais da metade dos isolados pertencem ao gênero Diaporthe e a maioria das espécies não são compartilhadas entre hospedeiros/tratamentos. Os resultados apresentados demonstram como o micobioma endofítico foliar de espécies lenhosas do Cerrado é dinâmico, complexo e moldado por fatores bióticos e abióticos. Além disso, este estudo evidencia a enorme diversidade de espécies de fungos endofíticos e reforça ainda mais a importância do estudo deste nicho tão importante e diversificado.