Epidemiologia molecular da paracoccidioidomicose no Paraguai

Abstract

A paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose sistêmica endêmica na América Latina, com elevada prevalência no Brasil, Argentina, Venezuela e Colômbia. No Paraguai, apesar da proximidade geográfica com essas áreas endêmicas, a PCM no Paraguai é frequentemente negligenciada, com mais de 400 casos registrados, porém com escassas informações sobre sua epidemiologia e diversidade de espécies de Paracoccidioides. Este estudo descreve aspectos epidemiológicos e moleculares da PCM no Paraguai entre 2014 e 2024, por meio de uma análise retrospectiva de casos diagnosticados no Centro de Especialidades Dermatológicas (CED) em San Lorenzo. Dados clínicos e epidemiológicos foram obtidos do banco de dados da Seção de Micologia, e o sequenciamento completo do genoma de nove isolados clínicos foi realizado, identificando polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) utilizando o pipeline NASP. Uma árvore filogenética de Máxima Verossimilhança foi construída com o IQ-TREE v2.1.1 para análise das relações evolutivas. Foram confirmados 66 casos de PCM no período, predominando homens com a forma crônica da doença. A maioria dos casos (69,7%) ocorreu em trabalhadores agrícolas, evidenciando alto risco ocupacional. O comprometimento pulmonar e mucoso foi frequente, principalmente em homens de 40 a 60 anos, com apenas dois casos em mulheres. A análise de densidade de Kernel revelou alta concentração de casos no Litoral Central e Chaco Úmido, corroborada pela modelagem de nicho ecológico, que indicou maior probabilidade de ocorrência na Região Oriental, especialmente em San Pedro e Caaguazú. A caracterização genômica revelou a predominância de Paracoccidioides brasiliensis S1B no Paraguai, além da primeira detecção de P. brasiliensis S1A e de um isolado com perfil genético misto S1A/S1B, indicando uma diversidade genética até então não documentada no país. Um Este estudo fornece a primeira caracterização epidemiológica e molecular abrangente da PCM no Paraguai, evidenciando a predominância de casos crônicos, o risco ocupacional em trabalhadores rurais e uma diversidade genética previamente não documentada.