Mulheres de direita e neoconservadoras nas assembleias legislativas no Brasil : as disputas pelas agendas de mulheres e de gênero

Abstract

A maior presença de mulheres das direitas na política institucional, sobretudo a partir das eleições de 2018, alterou o quadro de representação feminina. Juntamente com esta conjuntura brasileira, o cenário de reações à igualdade de gênero e sexual na América Latina delineia a atuação das mulheres das direitas, sobretudo neoconservadoras. O objetivo geral do trabalho é analisar as diferenças entre mulheres de direita e mulheres neoconservadoras em relação ao perfil, à comunicação política e à atuação legislativa sobre as agendas de mulheres e de gênero. A hipótese geral do trabalho é que mulheres de direita e neoconservadoras apresentam, ao mesmo tempo, posições antifeministas e um alinhamento seletivo ao feminismo liberal, mas não somente. Como metodologia, o trabalho tem uma abordagem quanti-quali, de forma a analisar as agendas políticas no Instagram e nos Projetos de Lei. Escolhemos uma Assembleia Legislativa Estadual por região, considerando aquelas que apresentam um maior percentual de mulheres eleitas. Sendo assim, estudamos as mulheres das direitas eleitas nos seguintes estados: Amapá, Maranhão, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Traçamos o perfil das mulheres das direitas, bem como analisamos os posts do Instagram e os Projetos de Lei relacionados às agendas de mulheres e de gênero. Argumento que o neoconservadorismo é um conceito-chave para compreender o processo de alianças da extrema-direita com a direita, setores religiosos e atores da sociedade civil. O neoconservadorismo é um movimento político que atua especialmente na regulação da ordem sexual. Por outro lado, a direita tradicional está centrada numa agenda econômica liberal e em um conservadorismo em que o individualismo tem maior peso. Os resultados mostram que há pontos em comuns entre ambos os grupos, como o tema da inclusão social, representatividade feminina e empreendedorismo. Contudo, o que os diferencia são temas que versam sobre a sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos, bem como assuntos religiosos com perspectiva antigênero, centrais às deputadas estaduais neoconservadoras.