Impactos de pequenas barragens sobre a comunidade de peixes na Amazônia

Abstract

A fragmentação de ecossistemas aquáticos por pequenas barragens e cruzamentos de estradas representa uma ameaça significativa à biodiversidade de ambientes lóticos, como riachos. Essas estruturas têm um impacto subestimado e pouco estudado devido ao seu tamanho reduzido. No Brasil, especialmente no Mato Grosso, sua rede de estradas exacerba o problema, muitas construções não autorizadas e não documentadas contribuem para a fragmentação dos corpos d'água e degradação do habitat. Compreender os efeitos dessas barreiras nos riachos e na biodiversidade de peixes é crucial, especialmente em regiões como a Amazônia. O presente estudo investigou o efeito dessas pequenas estruturas em riachos do Alto Xingu, Brasil, concentrando-se em avaliar mudanças ambientais e os impactos do isolamento ocasionado pelas barreiras na comunidade de peixes de riachos. Além disso, nós testamos o efeito dos atributos das barreiras no ambiente e na fauna de peixes. A amostragem foi realizada de forma pareada, com cada riacho amostrado duas vezes, a montante e a jusante de uma barreira, permitindo comparações. As barragens estudadas eram predominantemente pequenas, com menos de 6 metros de altura, construídas entre o final da década de 1980 e ao longo da década de 1990. As diferenças ambientais entre os tratamentos foram analisadas com Análise de Componentes Principais (PCA) e Análise de Variância Multivariada Permutacional (perMANOVA). Modelos lineares mistos foram usados para identificar diferenças significativas em variáveis ambientais entre os tratamentos. Abundância total, riqueza e composição de espécies de peixes foram analisadas usando modelos lineares de efeitos mistos, perMANOVAs e representados por Escalonamento multidimensional não métrico (NMDS). A Análise de Espécies Indicadoras (ISA) foi empregada para identificar espécies associadas a tratamentos específicos, e os efeitos das características das barragens (altura e idade) na dissimilaridade ambiental e da comunidade de peixes foram testados usando modelos lineares simples. Foram observadas diferenças significativas entre riachos de fluxo livre (sem barreira) e os desconectados (barrados). As análises mostraram variação ambiental marcante nos parâmetros de condutividade, oxigênio dissolvido e pH entre os trechos analisados. A fauna de peixes parece não ser afetada significativamente pelas barreiras, com abundância total, riqueza e composição de espécies feita com dados de abundância semelhantes entre os tratamentos analisados. Já a composição das espécies feita com dados de presença/ausência difere significativamente, com algumas espécies associadas a locais acima ou abaixo das barreiras. Surpreendentemente, não foram encontrados efeitos das características de barreira na dissimilaridade do habitat e da fauna de peixes. Nosso estudo mostra que as barreiras causam uma mudança sutil na qualidade da água e na composição acima e abaixo das barreiras, mas não há indícios de drásticas alterações de hábitat ou extirpação local de espécies acima ou abaixo das barreiras. No geral, o estudo forneceu insights sobre os impactos de pequenas barreiras nos ambientes de riachos e nas comunidades de peixes, destacando a importância de considerar tanto os fatores ambientais quanto os ecológicos nos esforços de conservação de água doce.