Uma pluma feminina na “Guerra das Finezas” : Juana Inés de la Cruz e a defesa de uma tradição de mulheres intelectuais no contexto da Querelle des femmes

Abstract

Um amplo debate sobre as capacidades morais e intelectuais das mulheres eclodiu na Europa no final da Idade Média. A Querelle des femmes, tema central desta pesquisa, põe em questão a superioridade ou inferioridade relativa aos sexos. Um exemplo de como a Querela se desenrolou fora do contexto europeu se configura na polêmica que teve lugar no México Colonial, em torno de duas figuras célebres: Juana Inés de la Cruz (1648-1695) e Padre António Vieira (1608-1697). A famosa controvérsia teve início após a publicação de um texto de autoria de Juana Inés, em que ela teceu críticas a um sermão proferido pelo Padre António Vieira. O texto inflamou um conflito que se desenrolava no púlpito religioso, originado pela disputa de poder entre autoridades do Clero que dominavam o cenário intelectual na Nova Espanha. Nessa perspectiva, essa pesquisa se propõe a analisar dois textos que evidenciam a Querelle des Femmes: Respuesta a Sor Filotea de la Cruz (1692), de Juana Inés, em que ela apresenta uma lista de mulheres intelectuais para declarar seu direito de escrever, entre outras estratégias de autorização, e a Apologia a favor do P. Antonio Vieyra da Companhia de Jesu da Provincia de Portugal (1727), escrito por um clérigo, em Lisboa, em defesa do Padre António Vieira. Além disso, perpassando pela política sexual, pretende-se refletir como Juana Inés articula uma consciência numa tradição de debates feministas, e, de forma criativa, se insere nos discursos intelectuais de sua época, contornando o poder das elites eclesiásticas hegemônicas e masculinas da Nova Espanha.