Em face de um choque : inovação e resiliência regional em uma economia emergente

Abstract

Os recorrentes eventos com efeitos econômicos negativos do início do século XXI têm fomentado o interesse por se entender o que influencia a resiliência regional, bem como suscitado questionamentos sobre relações teóricas dadas como certas. Diante desse contexto, esta tese tem o objetivo de avaliar a inovação, ex ante e em reação a um choque, no processo de resiliência regional. Para alcançá-lo, foram desenvolvidas quatro investigações sequenciais e interdependentes. O primeiro estudo revisou artigos teóricoempíricos indexados pelas bases Scopus e Web of Science e realizou uma análise de conteúdo e de correspondência múltipla. Como resultado, foram destacadas as variáveis de operacionalização da inovação na literatura sobre resiliência regional e demarcados dois perfis de pesquisa. Um deles tem enfocado, em particular, os níveis de inovação préchoque como possíveis preditores de resiliência regional, enquanto o outro tem se dedicado à capacidade adaptativa, a partir das ações e das interações de organizações e indivíduos. O segundo estudo utilizou uma regressão logística com indicadores socioeconômicos selecionados para verificar se proxies de inovação ou da capacidade de inovar são capazes de prever a resiliência regional dos 101 municípios mais populosos do Brasil diante dos efeitos econômicos adversos da pandemia da Covid-19. Todavia, os achados não possibilitaram apoiar a hipótese positiva formulada. Em seguida, a tese enfocou os mecanismos acionados devido a esse choque. O terceiro estudo é um piloto realizado no cluster calçadista de São João Batista (no estado de Santa Catarina), com base em entrevistas com diferentes atores regionais, e que também apresentou dados secundários para a contextualização do caso. Uma análise de conteúdo com saturação categorial suportou as evidências apresentadas. Os achados revelam que trabalhadores, empresas terceirizadas que exercem atividades produtivas e empresas de menor porte foram os principais afetados. Diante da suspensão temporária das atividades de lojistas a jusante da cadeia, diferentes e complementares tipos de inovações de processos emergiram no cluster a fim de possibilitar as vendas ao consumidor final. Logo, ao conceber a inovação como um mecanismo de adaptabilidade, este estudo indicou a relação dessa dimensão da resiliência regional na resistência e na recuperação econômica. Com base no referido piloto, o quarto estudo comparou os casos das aglomerações calçadistas de Franca (no estado de São Paulo) e Campina Grande (no estado da Paraíba) com dados derivados de entrevistas e documentos. Aqui, utilizou-se uma triangulação entre a análise de conteúdo qualitativa e quantitativa. O corpus examinado destacou reações comuns de contenção e manutenção do status quo, assim como uma maior assimetria entre os casos quanto aos tipos de inovação que emergiram em resposta ao choque da Covid-19, em face dos espaços de oportunidade explorados. Esses resultados apontam para efeitos território e portfólio na relação entre inovação e resiliência regional. Assim, em decorrência da série de estudos conduzida, argumenta-se que o nível de inovação pré-choque é um indicador de um “sistema imunitário”, mas insuficiente para prever a resiliência das regiões; diante de um choque, as inovações são um mecanismo de adaptabilidade, com essa dimensão da resiliência regional influenciando as demais. Além de fundamentarem a declaração aventada, considerados isoladamente, os estudos também apresentam outras contribuições para o avanço do conhecimento na área. Ademais, a presente tese oferece recomendações gerenciais e de políticas públicas para orientar a busca por regiões mais resilientes.