Evolução geológica de migmatitos da Zona de Cisalhamento Patos, Província Borborema, NE do Brasil : abordagem integrada U-Pb, Lu-Hf e Sm-Nd

Abstract

A configuração tectônica da Província Borborema exibe complexo arcabouço estrutural, definido por história policíclica desde o Arqueano até o final do Neoproterozóico. Diferentes blocos crustais foram acrescidos, amalgamados e retrabalhados, formando um conjunto de sub províncias, cada qual com história evolutiva distinta, separadas por um sistema de zonas de cisalhamento interconectadas. A Zona de Cisalhamento Patos corresponde a extensa estrutura de mais de 400 km de comprimento, orientação E-W, separando o Domínio Rio Grande do Norte e a Zona Transversal a sul, no estado da Paraíba. No corredor de cisalhamento, cuja cinemática é essencialmente dextral, afloram migmatitos, granitos foliados, gnaisses diversos e faixas de milonitos, afetados em maior ou menor grau de deformação. Neste trabalho são apresentados resultados de diferentes fases de migmatização nas rochas que se encontram na faixa definida pelo Lineamento de Patos. O principal objetivo foi determinar a sequência de eventos que permitiu estabelecer diferentes fases de geração de migmatitos em rochas submetidas a diferentes eventos de fusão parcial e retrabalhamento crustal. Idades U-Pb de 3.5 e 3.3 Ga são interpretadas como sendo as idades de cristalização dos protólitos dos migmatitos no Paleoarqueano. Idades meso-neoarqueanas encontradas nas rochas datadas mostram história complexa, marcada por magmatismo e deformação em 3.2, 3.0 e 2.65 Ga, com fases de geração de migmatitos contemporâneos. Novo pulso de eventos magmáticos com migmatização associada se desenvolve no Paleoproterozóico, com idades de 2.2, 2.1 e 2.0 Ga. Por fim, um evento em 575 Ma é bem evidente na geração de migmatitos róseos avermelhados, com magmatismo granítico rico em K, cortando e injetando as rochas mais antigas. Assim, embora a Orogenia Brasiliana seja responsável pelo desenvolvimento das extensas zonas de cisalhamento transcorrentes na região, e o desenvolvimento do arcabouço tectônico do Lineamento Patos, os resultados obtidos mostram que foram preservados fragmentos de crosta antiga ao longo do mesmo. A semelhança entre as idades e a estruturação geológica dessas rochas permite concluir que as unidades de crosta paleoproterozóica do Cráton do São Francisco e os inliers adjacentes do embasamento, que carregam uma história tectônica semelhante, sejam consideradas como um sistema orogênico coevo, possivelmente contínuo em sua formação, e sejam conhecidas como Orógeno Grande São Francisco.