Homens autores de violência doméstica contra mulheres no DF : levantamento do perfil, responsabilização e fatores envolvidos

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo investigar as características e discursos dos Homens autores de Violência (HAV) em relação à violência doméstica contra as mulheres no DF, considerando os estudos das masculinidades e os atravessamentos intersecionais. Para isso, este trabalho foi dividido em 3 artigos. O primeiro estudo teve o propósito de delinear o perfil dos HAV por meio da análise documental de 559 formulários de acolhimentos realizados nos Núcleos de Atendimento à Família e Autores de Violência Doméstica (NAFAVD) do Distrito Federal no âmbito da Lei Maria da Penha (LMP). Foram pesquisados dados sociodemográficos e informações sobre as violências praticadas. Foi utilizado o teste qui-quadrado para estabelecer correlação entre violência, raça e escolaridade. As análises estatísticas foram processadas pelo programa JASP 0.14.1 Verificaram-se as seguintes características predominantes dos HAV: negros, com ensino médio completo, com emprego formal e consumidores de bebida alcoólica. A violência psicológica foi a mais perpetrada. Não houve diferença significativa entre a identificação racial e o tipo de violência doméstica cometida, nem entre homens com maior ou menor escolaridade. No segundo artigo, objetivou-se compreender os motivos, posturas e fatores associados à violência doméstica cometida pelos HAV por meio da análise documental na mesma base de dados do estudo anterior. Com análise de conteúdo, foram identificadas três categorias: 1) caracterização da violência cometida e sofrida; 2) aspectos da relação na qual a violência ocorreu; 3) motivos da violência. O ciúme foi o principal motivo para a violência; os homens justificam e racionalizam a violência. Empurrões e xingamentos são condutas recorrentes. O terceiro estudo buscou compreender as vivências investigando como o ato violento aparece e é compreendido pelo HAV, e qual é a relação desses homens com a Lei (LMP), considerando elementos estruturantes como raça e gênero nessa leitura. Foram entrevistados, individualmente, 4 homens brancos e 6 homens negros. A partir da análise de conteúdo, foram identificadas quatro categorias: 1) Implicações no ato(s) violento(s); 2) Relação com a LMP; 3) Emocionalidades envolvidas decorrentes (do medo) da publicização da violência; 4) Ser homem e Interseccionalidades. Os HAV brancos e negros dividiram percepções semelhantes em todas as categorias. Ser processado por LMP interpela emocionalidades pautadas por valores das masculinidades ensejando danos narcísicos. A partir dos artigos foi observada a importância de reconhecer criticamente as peculiaridades dos HAV. O debate sobre HAV precisa estar além dos discursos hegemônicos e marginalizadores por vezes repetido no discurso acadêmico e na Justiça. As intervenções com homens precisam se adequar aos dilemas e às contradições vivenciadas na concretude e nas vivências cotidianas dos HAV. Ressalta-se a necessidade de outras pesquisas aprofundando as questões interseccionais em casos de violência doméstica contra as mulheres.