Influência da hiperglicemia e das alterações no microbioma salivar nas estimativas de doença cárie em indivíduos com diabetes mellitus

Abstract

A literatura já comprova que indivíduos portadores de Diabetes mellitus (DM) além da glicose sanguínea alterada, também apresentam maiores taxas de glicose salivar do que indivíduos normoglicêmicos. Acredita-se que a maior prevalência de cárie em indivíduos com DM pode estar relacionada com essas taxas de glicose. Objetivos: Avaliar se o aumento das estimativas de doença cárie em indivíduos com DM são explicados pela hiperglicemia salivar/sanguínea e/ou por alterações do microbioma salivar. Métodos: Estudo transversal realizado com indivíduos com DM e periodontite (DMP) e controles sistemicamente e periodontalmente saudáveis. Foram realizados exames clínicos, sanguíneos (glicose em jejum e hemoglobina glicada), testes de fluxo, pH e glicose salivar. O DNA microbiano total foi extraído, as regiões V3-V4 do gene 16S rRNA foram amplificadas e sequenciadas na plataforma Illumina MiSeq. Resultados: A prevalência de cárie coronária ativa encontrada foi de 43,59% e de cárie radicular ativa foi de 10,25%. A média dos níveis de glicose salivar foi de 0,95 mg/dL para pacientes com cárie coronária ativa, 0,37 mg/dL para aqueles com cárie radicular e 0,49 mg/dL para indivíduos sem cárie ativa. O CPOD e a extensão da cárie radicular foram correlacionados com HbA1c e FBG. Correlações significativas positivas foram observadas entre a glicose salivar, hemoglobina glicada (HbA1c) e glicose sanguínea em jejum (p <0,05). O filo Actinobacteria apresentou maior abundância no grupo de indivíduos com glicose salivar <0.35mg/dL do que o grupo com glicose salivar 0,35mg/dL (17,66,8% vs. 13,15,1%). A relação Firmicutes/Bacteroidota foi maior no grupo de pacientes com saliva em pH 8 do que no grupo de pH 6 (16,810,1 vs. 81,8120,4), enquanto o filo Proteobacteria estava em menor abundância (15,612,3% vs. 3,93,8%). No nível de gênero, Veillonella foi esgotado em indivíduos com saliva alcalina. Vários organismos em quantidade inferior a 0,01% foram prevalentes em pelo menos 50% das amostras. Conclusão: Níveis de glicose sanguínea e salivar são correlacionados, e ambos associados ao aumento do risco de lesões cariosas radiculares e modificações no microbioma salivar. Deve-se compreender que o aumento de lesões cariosas em indivíduos com DM não é justificado por um motivo único, mas sim, por um conjunto de situações que favorecem o aumento da prevalência de tal doença oral, dentre os quais a hiperglicemia. Novos estudos longitudinais devem ser realizados para melhor compreender essa associação.