Efeitos das alterações climáticas previstas para 2100 no desenvolvimento inicial de espécies arbóreas de Cerrado

Abstract

As mudanças climáticas aceleradas pela ação humana têm causado extinções e reduzido a biodiversidade em todo o mundo. Ambientes que apresentam alta frequência de distúrbios, como as savanas, pode estar particularmente ameaçados. O bioma Cerrado, um hotspot de biodiversidade, é composto principalmente por formações savânicas e vem sofrendo grande pressão devido às perdas de habitats e mudanças climáticas. Para compreender os impactos das mudanças climáticas na vegetação do Cerrado, fizemos dois experimentos com espécies arbóreas amplamente distribuídas nesse bioma. No primeiro experimento utilizamos as espécies Qualea grandiflora e Tabebuia aurea para testar o efeito de diferentes durações de veranicos (dias consecutivos sem chuva durante a estação chuvosa) no seu desenvolvimento, utilizando tratamentos de irrigação com intervalos de 1d, 8d e 15d. Os tratamentos de irrigação não causaram mortalidade de plântulas de ambas as espécies. O desenvolvimento inicial de Q. grandiflora não apresentou alterações entre os diferentes tratamentos de irrigação. O tratamento com 15d entre irrigações causou menor acúmulo de biomassa radicular de T. aurea provavelmente devido ao estresse hídrico. No entanto, o crescimento da raiz principal de T. aurea não sofreu alteração entre os tratamentos de irrigação. A profundidade da raiz principal pode ser uma estratégia importante para a sobrevivência de plântulas de espécies arbóreas em savanas, pois permite que alcancem frações do solo onde a água fica disponível por mais tempo ao longo do ano. No segundo experimento utilizamos Kielmeyera coriacea, Qualea grandiflora, Tabebuia aurea e Hymenaea stigonocarpa para observar parâmetros de crescimento das plântulas dessas espécies em dois diferentes cenários: atual, baseado em dados históricos; e futuro, baseado nas projeções do IPCC para 2100 segundo o SSP3-7.0, que para a região do Cerrado significa uma temperatura 2,5°C acima da temperatura atual em média e concentração atmosférica de CO2 de 860ppm. Todas as espécies apresentaram aumento da taxa de crescimento relativo e da biomassa total quando submetidas ao cenário futuro. A distribuição de biomassa encontrada no cenário atual de K. coriacea e H. stigonocarpa se manteve quando submetidas ao cenário futuro, enquanto que Q. grandiflora e T. aurea apresentaram maior investimento em biomassa aérea do que radicular devido à elevação da temperatura e da concentração de gás carbônico. K. coriacea foi a espécie que apresentou menor alteração dos parâmetros observados no cenário futuro e Q. grandiflora foi a espécie que apresentou maior alteração do crescimento inicial. Embora as respostas ao cenário futuro tenham variado de acordo com a espécie, todas as espécies apresentaram maior acúmulo de biomassa e maior taxa de crescimento relativo no cenário futuro.