"Falando a verdade frente ao poder", "falando a verdade às pessoas" : uma leitura sobre poder e resistência a partir da sociologia de Patricia Hill Collins

Abstract

Este trabalho analisa como o poder é compreendido a partir da sociologia de Patricia Hill Collins. A hipótese deste trabalho é a de que Collins concebe a ideia de poder como forma não apenas de identificar as injustiças, mas também de resistir a elas. Buscamos compreender, a partir de uma ampla revisão bibliográfica da obra de Patricia Hill Collins, três questões: os caminhos que a autora percorre para analisar o poder, sua compreensão sobre como o poder opera e como resistir às desigualdades e injustiças resultantes de desigualdades de poder. No primeiro capítulo, apresentamos os aspectos teórico-metodológicos que, em nossa concepção, fornecem as bases para a análise que Collins faz sobre o poder, a saber, o ponto de vista coletivo de mulheres negras; a tensão entre experiência vivida e a sociologia tradicional; e a interseccionalidade. No segundo capítulo, analisamos mais diretamente o tema do poder, apresentando como Collins articula a ideia de matriz de dominação para propor a heurística dos domínios do poder: estrutural, disciplinar, cultural e interpessoal. Compreendemos também a ideia de dialética entre opressão e resistência proposta pela autora. Por fim, no último capítulo apresentamos como Collins articula a ideia de resistência a partir do conceito de comunidade, como o espaço onde as pessoas experienciam as relações de poder, e da pedagogia crítica. Recorremos, para abordar estes temas, a leitura que a autora faz sobre o racismo como sistema de poder, especificamente a ideologia do racismo colorblind. Concluímos que Collins entende o poder a partir de relações interseccionadas entre sistemas baseados em raça, classe, gênero, nação e sexualidade. Essas relações, que Collins analisa tanto a partir do ponto de vista da dominação, mas também da resistência, se organizam a partir da matriz de dominação e dos quatro domínios do poder. Compreender as formas de dominação que promovem injustiças e desigualdades sociais é um meio para pensar, mais amplamente, as formas de ruptura com os sistemas de dominação.