Geografia em estradas : perspectiva geográfica e análise dos impactos negativos das rodovias em unidades de conservação do Distrito Federal - DF

Abstract

O impacto das estruturas do transporte rodoviário é contínuo e estende-se por todo o território brasileiro. A presente tese constitui-se de três artigos desenvolvidos com o intuito de dimensionar a atuação e de apresentar a importância da Geografia na elaboração de estudos que abordam os principais impactos da operação de rodovias sobre a biota brasileira. O primeiro artigo foi elaborado com o objetivo de avaliar a atuação da geografia em estudos que abordam os impactos das rodovias sobre a fauna ou da flora no Brasil a partir de uma revisão sistemática na literatura entre os anos de 2012 e 2022. Os principais resultados encontrados evidenciam uma tendência positiva de publicações sobre ecologia de estradas no Brasil nos últimos dez anos. A maioria, é composta de estudos empíricos que se concentraram na região Sudeste do país (35,2%) e abordam os efeitos dos atropelamentos de fauna (51,9 %). A atuação da Geografia em ecologia de estradas ainda é incipiente e poucos estudos sobre o tema foram realizados na região Nordeste. O segundo, buscou avaliar de que forma a velocidade de veículos e o volume de tráfego influenciam a taxa de atropelamentos de animais silvestres em unidades de conservação inseridas em ambientes urbanos. Os resultados indicam uma correlação positiva fraca entre atropelamentos e o volume de tráfego anual (ρ = 0,470; p < 0,05). Não foram encontradas significâncias estatísticas nos índices de correlação entre atropelamentos e infrações de excesso de velocidade e não há evidências de que a inserção da sinalização vertical (SV) surtiu efeito sobre os registros de atropelamentos a 200m (V=387; p > 0,3) ou a 500m (V=437.5; p > 0,5) da SV. A análise dos dados evidencia uma possível seleção da fauna habituada ao ambiente rodoviário nas colisões entre animais e veículos (CAV) e a consequente intensificação do efeito de borda, da fragmentação e do isolamento de espécies nas UC adjacentes. O terceiro, trata-se de um estudo de caso realizado no Distrito Federal que visa espacializar a zona de efeito de ruído viário (ZERV) gerada pela poluição acústica do tráfego de veículos e avaliar o grau de vulnerabilidade associado à desconexão dos habitats afetados. Os resultados obtidos evidenciam que UCPI com áreas inferiores a 5km² e próximas a trechos viários com volumes médios diários superiores a 60.000 veículos são as mais suscetíveis aos possíveis efeitos das mudanças na composição das espécies relacionadas aos comportamentos aversivos ou adaptativos que podem ser observados em grupos que dependem da vocalização para eventos sociais e reprodutivos. Dentre as seis UCPI avaliadas, a REBIO Guará foi a única com valor de IFI considerado muito alto. A UC é segmentada em duas partes por uma via movimentada. A sobreposição dos dados de classificação da paisagem à espacialização as ZERV para níveis de ruído superiores aos 70 dB(A) evidenciam que as áreas sensíveis das UCPI são heterogêneas e que são necessários estudos para avaliar a viabilidade das populações expostas à degradação dos habitat nas ZERV.