Palavra-maré : histórias, fabulações e subjetividades afroatlânticas em O crime do Cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz

Abstract

Este é um trabalho que versa sobre a palavra. Palavra como movimento e possibilidade de inscrição no mundo para além das imagens fixas e categorias limitadoras impostas às mulheres negras. Parte de um percurso acadêmico e subjetivo, a pesquisa que culmina nesta tese se assenta sobre as encruzilhadas, aqui entendidas como um operador teórico e encarnado da experiência negra na diáspora (MARTINS, 2021). Tendo como corpus literário o romance O crime do Cais do Valongo (2018), de Eliana Alves Cruz, evoco as vozes de mulheres negras nos fluxos do que chamei de palavra-maré. Dessa maneira, analiso o romance como obra que busca entrecruzar definições, escolhas e categorias literárias com a produção historiográfica dos territórios afroatlânticos, sobretudo no que tange à história social da escravidão e às narrativas de liberdade empreendidas pelos sujeitos negros em seus processos de subjetivação e imaginação radical de liberdade. Compreendo que a obra aqui estudada lança luz a fraturas, mas também ilumina cenários passíveis de fabulação. Narrar a história do Brasil tendo como foco as vivências da população negra e escravizada subverte a maneira pela qual se compreende e perpetua o funcionamento do país e de suas dinâmicas sociais. A hipótese que defendo é de que as palavras de mulheres negras se inserem numa circularidade temporal e ensejam o reconhecimento das subjetividades complexas que essas mulheres sempre reivindicaram para si.