Espelho, espelho meu, que tipo de leitor sou eu? : aspectos axiológicos de um fractal identitário emergente de leitor competente, sob as óticas hermenêutica e ecotransdisciplinar-fenomenológico-complexa

Abstract

A pesquisa relatada nesta tese visa a analisar, sob o prisma ecotransdisciplinar-fenomenológico- complexo, a conformação e a caracterização axiológica de um perfil identitário fractalizado emergente de leitor competente, a partir de metáforas linguísticas ecologizadas, elaboradas por docentes em formação inicial, da Licenciatura em Letras Espanhol, de uma instituição pública de ensino superior, da região Centro-oeste do país. A sua relevância justifica-se, sobretudo, em função da escassez de estudos acerca dos processos que envolvem o estudante-leitor, no âmbito acadêmico nacional brasileiro em nível superior (LEFFA, 2016), entre os quais, saliento o da sua conformação identitária como leitor competente. Os aportes teóricos basilares, pertinentes à área da Linguística Aplicada, norteadores deste trabalho referem-se aos campos da Transdisciplinaridade (MORIN, 1977; NICOLESCU, 1999, 2009); da Complexidade (LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008; LEFFA, 2009; PAIVA, 2005, 2014, 2016); da Ecologia do desenvolvimento humano (BRONFENBRENNER, 1979) e dos fenômenos alusivos à linguagem (VAN LIER, 2000, 2010; VASCONCELLOS, 2006); da Fenomenologia (BICUDO, 1999, 2000, 2011) e da Abordagem Hermenêutico-Fenomenológica Complexa (FREIRE, 2006, 2007, 2010, 2012, 2017). Utilizo-me, igualmente, do construto da identidade (HALL, 2003) no âmbito da formação docente (DE COSTA; NORTON, 2017; WALLER; WETHERS; DE COSTA, 2016) e da leitura (BERNSTEIN, 2014), associando-o à inter-relação com a concepção de self (BÜTZ, 1992; DESCHAMPS; MOLINER, 2014) do sujeito complexo (MORIN, 1998, 2003). Com relação ao ato de valoração, recorro aos pensamentos de Bakhtin (2011), de Jesinghaus (1984) e de Volóchinov (2017), assim como aos preceitos de Morente (2006) e de Pedro (2014), concernentes às polaridades constitutivas da inter-relação entre as noções de indiferença e de não-indiferença diante do bem-leitura. No âmbito das metáforas linguísticas, parto da acepção da sua natureza complexa e de princípios ecocognitivos da mente humana (CAMERON, 2003a, 2003b, 2003c; DUQUE, 2016, 2017, 2018; KÖVECSES, 2010; LAKOFF; JOHNSON, 1980). Metodologicamente, a investigação, de natureza qualitativa e interpretativista, apresenta cunho etnográfico (CHIZOTTI, 2006; MOITA LOPES, 1994) e contou com a utilização de cinco instrumentos de geração de dados: (a) observação participante (DEWALT; DEWALT, 1998, 2011; KAWULICH, 2005); (b) notas de campo (BOGDAN; BIKLEN, 1998; DENZIN; LINCOLN, 2006); (c) entrevistas semiestruturadas (COHEN; MANION; MORRISON, 2005; ROSA; ARNOLDI, 2006); (d) narrativas verbais escritas (CLANDININ, 2006; PAIVA, 2008, 2019), na modalidade memorial de leitura (ABRAHÃO, 2011; POLLAK, 1992) e (e) grupo focal (GATTI, 2005; POWELL; SINGLE, 1996). Na análise dos dados empíricos, empregou-se o método da cristalização (ELLINGSON, 2008; RICHARDSON; ST. PIERRE, 2005). Os resultados alcançados sugerem, à luz da concepção do Eu-leitor como o Terceiro incluído, a caracterização de um perfil identitário fractalizado de leitor competente, a partir de distintas confluências valorativas complementares, subjacentes à sua auto-hetero-eco-configuração, suscitando a percepção da sua multidimensionalidade e multirreferencialidade constitutivas. Dessa forma, sugiro a inversão terminológica para competente leitor, haja vista a contemplação não disjuntiva de distintas perspectivas axiológicas da realidade que caracterizam a emergência da identidade leitora fractalizada. Esta tese propõe uma nova perspectiva de observação e análise do referido fenômeno, em razão da relevância da sua natureza idiossincrática nos processos de percepção de si e da qualificação acadêmico- profissional dos atores sociais envolvidos.