Estudo sobre a configuração subjetiva de estudantes universitários que ingressaram pelo sistema de cotas

Abstract

A Lei Federal Brasileira 12711/2012 ampliou o acesso ao ensino superior federal público a partir da reserva de vagas para os estudantes concluintes do ensino médio em escolas públicas. A pesquisa teve por objetivo compreender como a condição de estudante universitário está configurada subjetivamente para os estudantes que ingressaram pelo sistema de cotas, identificando os tensionamentos e os desafios vividos no percurso singular dos participantes. O estudo fundamenta-se na Teoria da Subjetividade e na Epistemologia Qualitativa, na perspectiva histórico-cultural. A partir da Metodologia Construtivo-Interpretativa, foi realizado um estudo de caso com dois estudantes cotistas da Universidade de Brasília. As construções interpretativas apontam elementos que caracterizam a configuração subjetiva dos estudantes, que envolve a história de vida, a trajetória estudantil, a classe social, o medo do julgamento e da rejeição social. A trama social da vida dos estudantes e as experiências em curso e as anteriores produziram tensões no sistema de valores e crenças configurado pelos estudantes, produzindo sofrimento e mal-estar, assim como a abertura de novas vias de subjetivação. Evidenciou-se que a implicação emocional e motivacional gerada pelas experiências tensionadoras e contraditórias no espaço-tempo universitário gerou recursos subjetivos, abrindo novos processos de subjetivação, transcendendo o espaço normativo e emergindo um estudante na condição de agente responsável e de sujeito ativo e participativo, com produções intelectuais próprias. Visto que os valores hegemônicos do contexto escolar, universitário e da sociedade em geral ainda são marcados por atos discriminatórios contra os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, recomenda-se aos gestores a promoção de ações que busquem a integração social e acadêmica e potencializem as suas competências.