Dos trilhos ao asfalto : a transformação da representação da modernidade a partir da década de 1930 em Anápolis, Go

Abstract

A modernidade ao longo dos séculos possui diferentes conceitos, no entanto, é comum representa-la com a imagem da transformação, da mudança (BERMAN, 1986). No embalo das modificações as cidades se desenvolviam, cresciam e se renovavam dentro de si. Esse é o caso de muitas cidades médias da América Latina, que durante o século XX tiveram seus territórios profundamente alterados pelas infraestruturas urbanas, consideradas à época, representantes de uma possível modernidade. Borges (1990) afirma que “concorreram para as transformações de idéias e valores, os meios de transporte, a migração, as relações comerciais e os meios de comunicação, particularmente a imprensa”. As abordagens historiográficas no passado tenderam para a interpretação das transformações de Goiás pela ótica da economia, utilizando expressões, tais como atraso-periferia ou moderno-centro, sendo que percebe-se atualmente que outras dimensões do processo de modernização precisam ser analisadas, afim de se compreender de forma ampla a transição dos pequenos arraiais e vilas, para as cidades ditas modernas. Segundo, Rézio (2015) e Chaul (2001) a tradição do novo trouxe para a década de 1930, a ruptura e a negação de um passado considerado decadente e a incorporação do novo, em nome do progresso. A capital de Goiás foi transferida para uma nova localidade, utilizando-se esse discurso, o de trazer a modernização para o interior do país, sob um ideário salvacionista, marca do projeto nacional de modernidade. Goiânia, construída ao longo da década de 1930 incorporou “a posição de cenário de intervenções moralizadoras e racionalizadoras, com o objetivo estratégico de civilizar” (MANSO, 2001). Anápolis, localizada a menos de 60 km da nova capital do estado, encontrava-se nesse mesmo cenário de modernização, pois ao mesmo tempo que se ligava às outras cidades pelos meios de comunicação, tais como os jornais, o rádio e o telégrafo, seria inserida na rede ferroviária através da chegada da Estrada de Ferro Goiás, em 1935 e das estradas de rodagem nas décadas seguintes (POLONIAL, 2000). A cidade apresentava cenários de modernidade discrepantes, pois ao mesmo tempo que chegou a possuir três cinemas, não dispunha de pavimentação na maior das vias urbanas. Ao lançar-se um olhar para esse momento da cidade de Anápolis pretende-se analisar, utilizando-se uma abordagem histórico-historiográfica, como os símbolos da ferrovia, anteriormente os propulsores da modernidade, foram aos poucos sendo deixados de lado em detrimento da figura do automóvel, o novo representante da modernidade. Como fonte primária pretende-se estudar parte do Acervo do Museu Histórico de Anápolis, que contém publicações da década de 1920 em diante, com jornais, revistas e fotografias da época, tendo como principal fonte o jornal “O Anápolis”. Apesar de se analisar um passado heterogêneo, propõe-se assim um discurso unitário, considerando para tanto a associação de diversos elementos históricos, sociais, arquitetônicos e urbanísticos agregando enfim, conteúdos para a discussão acerca da representação da modernidade em Anápolis, sendo a finalidade deste trabalho construir uma narrativa colaborativa com as pesquisas a respeito da história urbana da cidade.