Ofícios primordiais humanos e relações dialógicas em contextos escolares : como a Pedagogia do fazer tece essa trama

Abstract

A Pedagogia do Fazer tem como elemento central em sua proposta a vivência dos ofícios primordiais humanos, como agricultura, marcenaria, culinária, lida com animais, ofício de pedreiro, entre outros. Considerando que essa proposta pedagógica ainda está em emergência no cenário educacional brasileiro, o presente estudo se mobilizou acerca do objetivo geral de compreender as formas de significação e valoração das experiências de trabalho manual por parte das crianças de uma escola que adota a Pedagogia do Fazer. Desdobram-se daí os objetivos específicos, elencados a seguir. (1) Caracterizar a Pedagogia do Fazer em relação às suas práticas, aos seus processos e às suas particularidades pedagógicas e socioculturais: a concepção do chamado “entorno educativo” e a formação de uma comunidade que educa; (2) analisar de que forma as vivências de trabalho manual e o conceito de trabalho são significados pelas crianças na escola selecionada, que adota a Pedagogia do Fazer, e (3) analisar de que forma se constituem as relações dialógicas, com o(a) outro(a), com o espaço e com si mesmo(a) na realização dos ofícios primordiais e como tais experiências de trabalho constituem os espaços relacionais. Tomou-se como contexto do estudo de campo uma instituição brasileira que adota a Pedagogia do Fazer e que se autodefine como uma escola Waldorf, que debruça especial atenção às vivências ligadas aos ofícios primordiais humanos. Foi feita uma revisão de literatura no sentido de traçar um histórico acerca da concepção de trabalho manual em contextos escolares. Na parte empírica da pesquisa, foram realizadas (1) entrevistas semiestruturadas com educadores da escola pesquisada; (2) tertúlias dialógicas com as crianças em seu ambiente de trabalho; (3) observações das situações de trabalho; (4) produções artísticas/visuais realizadas pelas crianças sobre as situações de trabalho; (5) roda de conversa com as crianças sobre as produções artísticas. Pudemos notar, através da análise das informações empíricas coletadas, que as possibilidades pedagógicas que a Pedagogia do Fazer apresenta podem restituir um equilíbrio que há muito se perdeu, entre as atividades de natureza cognitiva e aquelas de natureza manual. A análise das produções artísticas reforçou a percepção de que as experiências com os ofícios primordiais humanos na escola, em um espaço alargado de tempo, permitem que se estabeleça uma nova valoração do conceito de trabalho manual e as relações dialógicas fomentadas pelo próprio trabalho são parte importante nesse processo.