O romance de formação e a verdade universal de Jane Austen

Abstract

O presente estudo tem como finalidade analisar, com base no conceito e nas característicasdo Bildungsroman, dois romances escritos por Jane Austen: Orgulho e Preconceito e Emma, visando a seu enquadramento como romance de formação. Para tanto, descreveu-se o contexto histórico no qual esse termo surgiu e o contraste entre o Bildungsroman masculino e feminino. O termo, criado na Alemanha do século XIX, se refere à narrativização do processo de formação de um indivíduo na sociedade em vários âmbitos da vida, tais como os social, psicológico, moral e espiritual, por meio da trajetória de um herói ou de uma heroína que vivencia várias experiências que contribuem para seu amadurecimento. Logo, a aprendizagem consiste no desenvolvimento interior que é resultado da interação com o mundo exterior. Contudo, verifica-se uma discrepância entre o processo de formação masculino e feminino: enquanto o herói inicia sua trajetória na infância e pode se aventurar em viagens e casos de amor, o processo de formação feminino sofre restrições e culmina no casamento. Diferentemente do herói masculino, suas vivências são restritas ao lar, fazendo com que muitas vezes essa formação não seja concluída. Mas Austen foi revolucionária ao criar heroínas capazes de falar sobre sua inteligência e seus sentimentos, alcançando assim uma formação completa. Por isso, na análise objeto desta pesquisa, adotou-se como linha de pensamento teórico os pressupostos da Close Reading, cuja técnica consiste em verificar a complexidade de um texto através da leitura meticulosa, o que permite compreender o efeito que ele produz no leitor, figura essencial no Bildungsroman. Afinal, esta modalidade romanesca busca contribuir para o processo de formação do próprio leitor, por meio das experiências vividas pelo personagem. O resultado permitiu concluir que esses dois romances escritos por Austen podem ser considerados romances de formação, pois além de retratarem o amadurecimento de seus personagens, ensinam uma lição importante aos leitores: a de que, na maioria das vezes, estamos errados em nossos julgamentos e que devemos tomar cuidado com as nossas verdades, pois elas estão na maioria das vezes equivocadas.