Como virtudes, cidadania e práticas se relacionam no contexto da gestão estratégica de pessoas no setor público? :teste de um modelo estrutural

Abstract

O ambiente organizacional atual, permeado por rápidas mudanças e desafios impostos pela tecnologia, globalização e crises de natureza política, econômica e sanitária, como a pandemia do Covid-19 recém experimentada, requerem flexibilidade e dinamismo por parte dos trabalhadores. Nesse contexto, as organizações precisam valorizar e promover o engajamento, a motivação, o bem-estar e o desenvolvimento dos colaboradores a fim de fomentarem um ambiente organizacional mais saudável e produtivo. Evidências científicas indicam a relevância estratégica das virtudes organizacionais, das práticas de gestão de pessoas e dos comportamentos de cidadania organizacional neste contexto de novos desafios. Outrossim, há uma lacuna na literatura no que tange à realização de estudos envolvendo variáveis do comportamento organizacional, notadamente quanto a essas três variáveis conjuntamente. Assim, o presente estudo, de natureza multimétodo, tem como objetivo precípuo identificar a relação existente entre virtudes organizacionais, práticas de gestão de pessoas e comportamentos de cidadania organizacional no contexto do serviço público, a partir das lentes da gestão estratégica de pessoas e do comportamento organizacional positivo. Para tanto, a tese é composta, além da Introdução (capítulo 1) e Conclusões (capítulo 7), por cinco capítulos que foram desenvolvidos em formato de artigos científicos interdependentes. Em primeiro lugar, nos capítulos 2, 3 e 4, com abordagem qualitativa, foram elaboradas revisões sistemáticas da literatura internacional, com análises bibliométricas, no intuito de apresentar um panorama do estado da arte atual de cada variável da pesquisa, assim como seus principais conceitos, fundamentos, pressupostos, instrumentos de medida e estudos empíricos que investigam seus antecedentes e consequentes, de forma a identificar lacunas para subsidiar a proposição de uma agenda de novas pesquisas nos temas. O capítulo 5, utilizando uma abordagem multimétodo, teve como proposta desenvolver e obter indícios de validade e confiabilidade de um modelo de mensuração de práticas de gestão de pessoas no contexto do serviço público, denominado Escala de Práticas de Gestão de Pessoas Pública (EPGP Pública). A EPGP Pública ficou composta por 19 itens distribuídos em 4 fatores: Relacionamento; Treinamento, Desenvolvimento & Educação; Condições de Trabalho; e Avaliação de Desempenho e Competências. A escala apresentou bons indícios de validade interna, de construto, de conteúdo e confiabilidade. Além disso, neste estudo foi apresentado o uso diagnóstico da EPGP Pública, com servidores de uma instituição pública. A partir da EPGP Pública, foi possível testar as relações entre as variáveis propostas. Assim, o capítulo 6 trata de um estudo quantitativo, no qual foram testadas cinco hipóteses de pesquisa, bem como identificadas as percepções dos servidores de duas instituições públicas quanto às virtudes organizacionais, práticas de gestão de pessoas e comportamentos de cidadania organizacional. Das cinco hipóteses, quatro delas foram confirmadas. Como principais resultados, tem-se que as práticas de gestão de pessoas são melhores preditoras dos fatores de comportamentos de cidadania organizacional do que os fatores de virtudes organizacionais. Já quanto ao resultado da investigação da percepção dos servidores quanto às três variáveis mencionadas, a única variável percebida foram os comportamentos de cidadania organizacional, com destaque para o fator cooperação com os colegas. Como contribuição teórica, esta tese avançou ao se debruçar sobre um modelo ainda inexplorado na literatura científica, especialmente no contexto do setor público. Enquanto implicações gerenciais, o estudo forneceu uma ferramenta diagnóstica que pode auxiliar os gestores públicos a identificar oportunidades de melhorias em suas práticas rumo a uma gestão de pessoas mais estratégica e efetiva. Assim, torna-se necessário que gestores públicos promovam as virtudes nas organizações, haja vista sua importante influência na percepção das práticas de gestão de pessoas, para assim conduzir a patamares elevados de comportamentos positivos no contexto de trabalho, como os comportamentos de cidadania organizacional.