Desenvolvimento de um framework para avaliação da integridade ecológica de riachos

Abstract

O mundo vem passando por grandes transformações e, com elas, os impactos das atividades humanas sobre os mais diversos biomas e ambientes são notórios e preocupantes. Os ecossistemas aquáticos estão entre os mais ameaçados, levando a consequências que vão desde a perda da biodiversidade e alterações do equilíbrio ambiental até a eventos de escassez hídrica relacionados tanto a quantidade quanto a qualidade das águas. O monitoramento ambiental sempre teve como um dos principais objetivos avaliar as alterações que os agentes estressores exercem sobre os diversos elementos dos ecossistemas e, assim, direcionar ações de gestão. Ao longo dos anos, o monitoramento de ambientes aquáticos foi sofrendo modificações, transferindo o foco sobre a água como recurso para a água como parte de um ecossistema. As tradicionais análises de variáveis físicas e químicas foram sendo complementadas por indicadores biológicos por entender-se que estes são a ponta final da cadeia de processos na qual o ecossistema está inserido. Assim, indicadores biológicos são capazes de refletir o somatório de efeitos das pressões às quais o ecossistema está exposto, e de uma maneira menos oscilatória do que muitos parâmetros de qualidade de água. Apesar do avanço científico no tema e dos inúmeros exemplos de países e regiões do mundo onde esta abordagem integrativa já é aplicada até mesmo a nível de programas governamentais de monitoramento, muitas regiões, especialmente as tropicais, como o Brasil, ainda permanecem realizando o monitoramento tradicional. Considerando a relevância do Brasil no cenário hídrico e de biodiversidade mundial, é urgente que avanços nos métodos de monitoramento de ambientes aquáticos sejam implementados. Para tanto, é necessário o conhecimento sobre o comportamento de comunidades biológicas e processos ecossistêmicos diante de variações naturais e de impactos antrópicos. Assim, o objetivo deste trabalho foi traçar os caminhos necessários para o delineamento de um framework para avaliação da integridade ecológica de riachos, partindo da coleta de dados primários de campo, passando pela modelagem e desenvolvimento de índices, e chegando às aplicações na gestão. Primeiramente, fizemos uma caracterização da área de estudo, avaliando a influência de fatores como a sazonalidade e a distribuição espacial, por bacias hidrográficas e condições de proteção ambiental, sobre as características físicas, químicas e biológicas de riachos de cabeceira pertencentes a três grandes bacias hidrográficas brasileiras (Capítulo I). Demonstramos alterações na composição de duas comunidades biológicas (diatomáceas e macroinvertebrados) e de métricas estruturais e funcionais ao longo de gradientes naturais e de distúrbios antrópicos, possibilitando a identificação de potenciais táxons e métricas indicadoras, bem como limiares ecológicos, para os principais agentes estressores (Capítulos II e III). Por fim, desenvolvemos um índice de saúde de rios que, além de considerar os diversos indicadores de condição ambiental identificados nos capítulos anteriores, também levou em consideração as pressões humanas e as respostas da sociedade/governo, numa abordagem ainda mais integrativa (Capítulo IV). Apesar do grande esforço amostral, do avanço do conhecimento sobre os ecossistemas de riachos, e do framework proposto, sabe-se que o universo do monitoramento é ainda maior. Assim, este trabalho não esgota o tema da avaliação de integridade ecológica para a área de estudo e muito menos para outras regiões, mas soma-se ao conhecimento existente e abre inúmeras possibilidades para o futuro.