A fina tessitura da seda : diálogos feministas com adolescentes acautelados(as) em unidades socioeducativas de internação

Abstract

Desenvolver práticas socioeducativas incentivadoras do pensamento crítico feminista, com adolescentes privadas(os) de liberdade pelo cometimento de ato infracional, implica refletir criticamente sobre as relações interseccionais de poder e seus efeitos em diferentes aspectos do convívio social, dentre eles a própria experiência da privação da liberdade. Visando contribuir para os estudos sobre socioeducação, a presente pesquisa teve como objetivo (re)conhecer - a partir de reflexões elaboradas em contexto de oficinas pedagógicas com adolescentes que estão cumprindo medidas privativas de liberdade - estratégias pedagógicas que favoreçam diálogos sobre o feminismo. As informações que compõem esta tese foram construídas por meio de uma pesquisa-intervenção em que foram realizadas duas oficinas pedagógicas: (1) Abrindo a mente pro feminismo, cujos participantes foram a pesquisadora e sete adolescentes do sexo masculino que estavam cumprindo medida de internação provisória; e (2) Sororidade, cujas participantes foram a pesquisadora e três adolescentes do sexo feminino que estavam cumprindo medida socioeducativa de internação. As oficinas pedagógicas ocorreram ao longo de três meses, em duas unidades socioeducativas de internação no Distrito Federal. Como instrumentos de registro dos encontros foram utilizados um gravador de áudio e o diário de campo. As informações da pesquisa foram analisadas qualitativamente, à luz de estudos feministas de perspectiva interseccional. Sob essa ótica, foi possível observar a relação entre demarcadores sociais de raça, classe, gênero, sexualidade e a experiência da privação da liberdade na adolescência. As informações da pesquisa foram sistematizadas em três blocos temáticos: Significando a Privação da Liberdade; Significando as Relações Íntimas e/ou Afetivas; e Diálogos Feministas em Contextos Socioeducativos de Internação. As análises indicam que sistemas de dominação como o patriarcado, o racismo e o cisheterosexismo, entranhados nas relações sociais cotidianas, atravessam os muros das entidades privativas de liberdade e se fazem presentes nas práticas e relações institucionais cotidianas. Nesse sentido, a educação crítica feminista precisa conquistar espaços cada vez maiores em contextos socioeducativos de internação. Diálogo, tensionamentos e reflexão são indispensáveis para promover a conscientização e a transformação de pensamentos e práticas sexistas e opressoras.