Terapia pró-ativa com aceponato de hidrocortisona nas otites externas crônicas recorrentes de fundo alérgico em cães

Abstract

A otite externa em cães, caracterizada por inflamação do epitélio das orelhas externas, é comum na prática veterinária, especialmente em pacientes dermatológicos, com incidência de cerca de 22%. A doença é frequentemente associada a dermatopatias alérgicas, responsáveis por 75% das otites externas recorrentes. Os sinais clínicos incluem edema, eritema, prurido intenso e aumento do cerume. Este estudo investigou a eficácia do aceponato de hidrocortisona como terapia pró-ativa nas otites externas crônicas recorrentes de fundo alérgico em cães. Foram selecionados 46 cães, totalizando 91 orelhas, com histórico de otite externa recorrente. Os cães foram submetidos a tratamento reativo com a otite presente (de acordo com a prescrição do fabricante) com Cipro-otic® e avaliados em cinco momentos distintos sendo, dias zero, 90, 180, 270 e 360 com exames citológicos e otoscopia digital. Após o tratamento reativo, iniciouse a terapia pró-ativa na forma de pulsoterapia preventiva de manutenção com aplicações locais duas vezes na semana de aceponato de hidrocortisona por 360 dias, também com avaliações periódicas nos dias zero, 90, 180, 270 e 360. Os exames citológicos e OTIS3 foram utilizados para monitorar a presença de agentes infecciosos e o estado clínico das orelhas. Quanto aos resultados, na fase de tratamento reativo com Cipro-otic®, os exames citológicos revelaram um predomínio de malassézias 2+ (M2+) em todos os momentos avaliados, especialmente nos dias RZERO e R90. Os agentes secundários como cocos e bastonetes foram detectados, sendo mais prevalentes em R270 e R360, quando 93% dos cães apresentavam níveis acima do limite mínimo estipulado. Em P90, houve redução de 34,10% nas citologias que continham M1+, 93,32% de M2+ e 87,48% para cocos 1+ em comparação com o dia R90. Quando comparados os momentos R180 e P180 detectou-se diminuição de 76,90% para M1+, 97,21% para M2+ e de 90,90% para cocos1+. Na fase pró-ativa, nos tempos P90 até P360, a variação do escore foi de zero a 3. Sendo escore zero mais evidenciado nos tempos P90 (69,20%), P180 (78,02%), P270 (67,03%) e P360 (82,41%). Com relação ao OTIS3, em RZERO os escores (OTIS3) variaram de 1-9, com maior prevalência dos escores 3 (21,97%), 5 (19,78%) e 7 (15,39%). Nos momentos P90 até P360, os escores foram de 1-8, sendo o escore 3 o mais predominante, com percentuais de 36,26%, 47,25%, 46,15% e 48,35%, respectivamente. Os resultados indicaram que a terapia pró-ativa com aceponato de hidrocortisona foi eficaz na redução da frequência e gravidade das recidivas. Avaliações citológicas e de otoscopia digital mostraram melhora na inflamação e na colonização microbiana, com mais de 85% das amostras isentas de agentes secundários. A terapia pró-ativa também demonstrou ser segura, sem efeitos adversos. Concluiu-se que o uso de aceponato de hidrocortisona é uma abordagem promissora para o manejo a longo prazo de otites de origem alérgica em cães, melhorando a qualidade de vida dos animais e minimizando o uso de medicamentos ototóxicos e antimicrobianos.