Desenvolvimento de um novo produto biopesticida sustentável à base de cannabis sativa para a produção animal: uma avaliação pelo método Delphi

Abstract

A presente dissertação procura avaliar a possibilidade do desenvolvimento de um produto biopesticida à base de cannabis para a produção animal no Brasil, levando em conta as dimensões de desenvolvimento de novos produtos (NPD), como estratégia, pesquisa, comercialização, processo de NPD, clima de projeto, cultura da empresa, mais a dimensão sustentabilidade. Para conduzir este trabalho, foi feita uma pesquisa multidisciplinar com especialistas do campo, visto que o objeto de pesquisa exige uma abordagem ampla e diversa. Apesar do aumento da população mundial previsto para o final do século e o consequente aumento da demanda por produtos alimentares, a produção de alimentos tende a se retrair, movimento acentuado por décadas de agravamento de resistências de pragas a pesticidas sintéticos, e que pode ser atenuado ou contornado pelo uso de biopesticidas fitoquímicos; no caso específico da produção animal, a literatura mostra a Cannabis sativa com promissor potencial como bioinseticida e bioacaricida. A pesquisa entrevistou cinco especialistas com formações diversas no campo de pesquisa e desenvolvimento de biopesticidas, com as entrevistas feitas via metodologia Delphi e com Análise de Conteúdo das respostas, tendo como achados oportunidades e obstáculos pertinentes às dimensões do NPD de um biopesticida fitoquímico baseado em cannabis. As oportunidades são a demanda do mercado por pesticidas eficazes sem toxicidade para organismos não-alvo e a chance reduzida do agravamento de resistências de pragas a extratos vegetais, pelos seus múltiplos e simultâneos mecanismos de ação; os obstáculos são a regulamentação atual da Cannabis sativa no Brasil, a obtenção de matéria-prima em volume e uniformidade, padronização de extratos, passos adicionais do NPD de um biopesticida fitoquímico, testes de resíduo tóxico em produtos de origem animal, desafios burocráticos para o registro e patenteamento de biopesticidas, resistências institucionais, percepção do consumidor quanto a biopesticidas fitoquímicos, e dificuldade de financiamento de projetos de pesquisa e desenvolvimento. A sustentabilidade do NPD de um biopesticida canábico em um país como o Brasil, por sua vez, trafega pela reconstrução do cenário de políticas públicas para a agricultura familiar, e por um hipotético cultivo de cannabis em solo nacional livre de pesticidas e com eficiência energética.