Práticas de enfermagem no contexto da atenção primária à saúde no Distrito Federal: uma análise sobre o trabalho e a valorização dos enfermeiros

Abstract

O desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde brasileira está ligado à luta da classe trabalhadora por um modelo de saúde abrangente e ao desenvolvimento da enfermagem e suas práticas, principalmente na Estratégia Saúde da Família. Aspectos relacionados ao perfil da categoria de enfermagem, ao seu papel na Atenção Básica e à estruturação do mundo do trabalho se interligam às práticas de enfermagem e refletem no seu reconhecimento social, influenciando a valorização profissional. O trabalho é uma categoria analítica atravessada não apenas pela transformação de matéria em produto; nele estão relações sociais perpassadas pelos aspectos de classe, raça/etnia e gênero. Nessa perspectiva, as medidas de austeridade inerentes às crises capitalistas resultam em precarização do trabalho, com implicações nas práticas de saúde e, portanto, de enfermagem. O objetivo geral do estudo é analisar as práticas de enfermagem no contexto da APS no DF, com objetivos específicos: analisar o perfil profissional e sociodemográfico dos enfermeiros que atuam na Atenção Básica à Saúde no DF; descrever os cenários de prática dos enfermeiros nas regiões de saúde do DF; caracterizar as práticas desenvolvidas pelos enfermeiros na Atenção Básica à Saúde, segundo seus processos de trabalho, sob a ótica da coordenação do cuidado; sistematizar a narração dos enfermeiros sobre sua percepção acerca de suas práticas no âmbito da Atenção Básica à Saúde, no tocante ao reconhecimento social e à valorização de seu trabalho; produzir um podcast que dialogue acerca das narrativas dos profissionais sobre o cotidiano do trabalho, com vistas à publicidade das práticas de enfermagem no âmbito da Atenção Básica, através de uma ferramenta de grande alcance, para a valorização profissional e o reconhecimento social. Para isso, parte da hermenêutica dialética, através de metodologia mista qualiquantitativa; dados quantitativos coletados por questionário eletrônico, analisados pelo programa Statistical Package for the Social Sciences; coleta de dados qualitativos com roteiro semiestruturado, entrevistas audiogravadas, transcritas e analisadas através do software NVivo, com o método de análise de conteúdo de Bardin. A relação dos dados traçou o perfil da categoria e de sua percepção sobre o trabalho. Resultados demonstram que enfermeiros na APS do DF são majoritariamente do sexo feminino, pardos, casados, católicos, de outros municípios e residentes onde trabalham, formados em instituições brasileiras, graduados há mais de dez anos e pós-graduados. As características históricas, culturais e sociodemográficas do DF repercutem na percepção dos enfermeiros sobre o cotidiano do trabalho, o reconhecimento e a valorização social. A pandemia de COVID19 acentuou condições de precarização do trabalho, influenciando a percepção dos profissionais sobre o sentido do trabalho e a valorização social. A influência da formação histórica e cultural e elementos relacionados à divisão técnica e social do trabalho ainda é vigente, sobretudo sob o capitalismo e suas crises, que repercutem no trabalho. A pandemia recrudesceu condições laborativas deletérias, ao passo que impulsionou consciência coletiva na enfermagem e desnudou a importância da Saúde da Família enquanto estratégia de execução da Atenção Primária e caminho para transformação do modelo de saúde. A enfermagem é categoria pilar na construção de modelos e sistemas de saúde voltados à universalidade, sob construção da integralidade e equidade, tendo a Atenção Primária como eixo condutor da garantia da saúde enquanto direito.