Comunidades de pequenos mamíferos e predação de sementes em áreas de Cerrado em diferentes estágios de regeneração

Abstract

O uso da terra para agropecuária é uma das principais causas de alteração da paisagem no Cerrado brasileiro. Esse distúrbio pode alterar as comunidades da fauna nativa e suas funções ecológicas. Neste estudo, investiguei o efeito dessas alterações na paisagem (incluindo áreas em processo de restauração) na comunidade de pequenos mamíferos terrestres e no desempenho destes como predadores de sementes. Amostrei cinco ambientes, no Cerrado brasileiro – uma área de cerrado sensu stricto, uma pastagem abandonada composta principalmente de braquiária (Urochloa decumbens), e áreas em três fases distintas do processo de regeneração (dois três e quatro anos após o plantio de espécies nativas). Avaliei a disponibilidade de recursos alimentares para estes mamíferos, investigando a biomassa de invertebrados nos habitat amostrados. Como esses animais atuam principalmente como predadores de sementes em diversos habitat, avaliei a predação das sementes de duas espécies nativas, o carvoeiro (Tachigali vulgaris) e a copaíba (Copaifera langsdorffii), nas áreas amostradas. Em cativeiro, ofereci sementes destas duas espécies e de braquiária para o roedor dominante nas áreas. Registrei 300 capturas de 180 indivíduos, pertencentes a cinco espécies. Curvas de rarefação indicaram que áreas em processo de regeneração por mais tempo e a área nativa tendem a possuir maior riqueza. A maior biomassa de invertebrados foi encontrada no Cerrado nativo na estação chuvosa. O roedor Necromys lasiurus, espécie generalista de Cerrado, apresentou maior dominância nas áreas em regeneração na estação seca. Os pequenos mamíferos foram os principais predadores das sementes testadas em campo. Houve diferenças entre habitat apenas para C. langsdorffii, com maior predação nos ambientes de pastagem e Cerrado nativo na época chuvosa. Em cativeiro, N. lasiurus predou sementes de todas as espécies oferecidas. Alterações causadas por pastagens e os processos de recuperação destas, podem modificar as comunidades de pequenos mamíferos e o papel ecológico destes.