Ambiente de desenvolvimento e estratégias de história de vida em adolescentes : a relação entre imprevisibilidade e severidade ambiental e traços antissociais

Abstract

Os traços de personalidade e comportamentos antissociais são objetos de grande interesse à sociedade, uma vez que afetam a segurança e o bem-estar das pessoas. A adolescência e o início da vida adulta são marcos importantes para a emergência dessas características devido à maior prevalência de prática de comportamentos antissociais e de vitimização dessa faixa etária em diversas culturas. Isso significa que a adolescência apresenta um marco importante para escolhas estratégicas que podem incluir maior ou menorpropensão a comportamentos antissociais e traços de personalidade que os facilitam. As hipóteses trabalhadas no presente trabalho indicam que essas características psicológicas estão associadas à estratégia de história de vida rápida e estão mais proeminentes em indivíduos que foram expostos a mais pistas de severidade e imprevisibilidade ambientais. Foram realizados dois estudos teóricos a fim de revisar a literatura sobre a teoria da história de vida e sua relação com traços antissociais. O primeiro manuscrito tem por objetivo apresentar os principais modelos da teoria e alguns estudos empíricos sobre a área na psicologia. O segundo trabalho apresenta a literatura sobre a relação entre a tríade sombria e a estratégia rápida de história de vida, considerando o ambiente de desenvolvimento e os trade-offs que podem estar associados às características de personalidade. Também foi realizado um estudo empírico com o objetivo de identificar essa relação em uma amostra de estudantes brasileiros no Distrito Federal. Foi solicitado aos adolescentes que preenchessem um conjunto de instrumentos relacionados às condições ambientais no último ano, assim como medidas de agressão, psicopatia e comportamentos antissociais. Os dados foram analisados por meio de modelagem por equações estruturais e indicaram que as condições de severidade e imprevisibilidade previram os comportamentos antissociais e um fator de agressão, mas não se relacionaram com o outro fator de agressão identificado e a psicopatia. Os resultados indicam que aexposição a pistas ambientais de imprevisibilidade e severidade no último ano não afeta o traço de personalidade, o que está coerente com os dados de que a personalidade é construída ao longo do desenvolvimento e afetada por fatores genéticos e ambientais e relativamente estável a partir da adolescência. O fato de experiências que indicamseveridade ambiental predizerem o fator de agressão denominado reatividade indica que esse fator pode estar mais suscetível a exposições recentes a pistas de mortalidade e pode ser uma das formas que os adolescentes encontram para resolver problemas. Os comportamentos antissociais foram previstos por ambas as condições ambientais e indicam que os adolescentes utilizam essas pistas recentes para ajustar seu comportamento. São discutidas as limitações da tradição de pesquisa na teoria da história de vida na psicologia e direções futuras para diminuir os erros decorrentes dessas limitações.