Avaliação longitudinal de métodos de remoção seletiva de tecido cariado em molares decíduos vitais e assintomáticos com lesões de cárie profundas

Abstract

Introdução: O manejo de lesões de cárie cavitadas não acessíveis aos instrumentos de higienização e com sinais de atividade tem como indicação a remoção seletiva de tecido cariado. Esta técnica tem diferentes condutas clínicas, a depender da profundidade da lesão. O manejo de lesões profundas usualmente está associado a insegurança terapêutica por parte do profissional e a complicações pulpares imediatas ou a longo prazo. Objetivo: comparar, a partir de dados de um e dois anos de acompanhamento, remoção seletiva de tecido cariado por meio de critério objetivo versus subjetivo em lesões profundas. Método: Esta tese tem como base um estudo clínico randomizado controlado simples-cego de base comunitária. A amostra foi composta por molares decíduos vitais e assintomáticos com lesões de cárie profundas de alunos de seis escolas públicas do Paranoá – Distrito Federal. A randomização foi feita de acordo com o protocolo de remoção seletiva: (O) protocolo objetivo – remoção seletiva com brocas de polímero e (S) protocolo subjetivo – remoção seletiva com curetas. O tratamento foi realizado em unidade móvel odontológica por dois dentistas previamente treinados e, a avaliação, por dois examinadores calibrados. Modelos lineares generalizados e regressão de Cox multinível foram usados. O sucesso da restauração foi avaliado com o critério ART. Resultados: 115 crianças foram tratadas (177 restaurações, 91S, 86O). Após dois anos, de 136 restaurações (71S, 65O), 50S e 48O apresentaram sucesso (critério ART 0/1, sem complicações pulpares, sem necessidade de reintervenção e/ou extração) e 70S e 65O sobreviveram (dente retido com ou sem a necessidade de novos retratamentos, ou esfoliado). Houve 9 casos de complicações pulpares (7S, 2O). As análises não mostraram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos ao se considerar tempo de tratamento (média; 95%CI - S: 433s; 404– 462s; O: 412s; 382-441s; p=0.378/GLM), satisfação imediata do paciente (p=0,164) e taxa de sucesso e sobrevida. Risco de falha não foi associado estatisticamente ao tipo de protocolo, à idade, ao gênero ou à arcada dentária (p>0.05/Cox). Maior risco de falha restauradora foi estatisticamente associado a restaurações envolvendo múltiplas superfícies em 1 ano de acompanhamento (HR: 4.60; 95% CI: 1,70-12,4); e, em 2 anos, o achado foi confirmado (restaurações de superfície única com menor risco de falha - HR:0,14; 0,06- 0,37). Conclusão: Ambos protocolos avaliados apresentam sucesso clínico para o manejo de lesões de cárie profundas em dentes decíduos, considerando complicação pulpares e não-pulpares.