A produção orgânica e artesanal em Minas Gerais : uma análise do setor lácteo

Abstract

A pesquisa tem como objetivo principal compreender as práticas alternativas de produção do setor de laticínios no espaço rural mineiro no contexto das mudanças ocorridas no mercado e no consumo. A metodologia adotada baseou-se na pesquisa bibliográfica, documental e na realização de trabalhos de campo. Como principais resultados, verificou-se que o setor lácteo brasileiro foi objeto de intensa reestruturação produtiva a partir da incorporação de inovações técnicas e organizacionais com efeito amplificador na produtividade, eficiência e criação de novos produtos. Essas mudanças não ocorreram de modo homogêneo no território nacional e tampouco foram adotadas em todos os estabelecimentos. Desse modo, o setor apresenta grandes distorções entre indústrias multinacionais, nacionais, assim como entre grandes e pequenos produtores. A pesquisa identificou, como uma das principais estratégias entre os pequenos produtores para a manutenção no setor, a produção de produtos diferenciados, principalmente produtos artesanais, tais como queijos e derivados, bem como a produção de leite orgânico. Essa orientação está em consonância com o aumento da demanda por tais produtos pelos consumidores dos grandes centros urbanos mais suscetíveis às mudanças nos hábitos alimentares. Esses consumidores e seus respectivos espaços de comercialização também são responsáveis por induzir a certificação dos produtos, contribuindo para a disseminação de selos orgânicos, de produção artesanal e de indicação geográfica. A pesquisa concluiu que não obstante a importância do estado de Minas Gerais no setor de laticínios, particularmente as iniciativas de produção de leite orgânico são ainda bastante insuficientes, demonstrando a desproporção em relação à produção convencional. Os principais entraves ao maior desenvolvimento de práticas alternativas dizem respeito ao baixo incentivo por parte do Estado no fomento de crédito aos pequenos produtores, oferta de assistência técnica, garantia de comercialização, flexibilização das normas sanitárias e, por parte do capital privado, a contestada atuação de grupos multinacionais no setor de orgânicos.