Construindo o horizonte de Brasília : o caso do Condomínio Paranoá Parque

Abstract

A implantação do Conjunto Urbano de Brasília se deu em uma unidade geográfica de paisagem singular, com características ambientais e topográficas consideradas propícias pelas comissões científicas que conduziram estudos no território (Relatório Cruls - 1894 e Relatório Belcher - 1954) (AMARAL et al, 2020). A posição destacada de Brasília na Bacia Hidrográfica do Paranoá, devido a implantação do Plano Piloto sobre o relevo de domo, permite uma visualização privilegiada do horizonte de vários ângulos de dentro para fora; e a possibilidade de diferentes localidades urbanas, vizinhas a cidade, visualizarem o bem tombado, de fora para dentro (VERÍSSIMO, 2005). Buscando nos aproximar de abordagens como a paisagem urbana histórica (HUL), procuraremos explorar as diversas camadas que compõem esta paisagem. Nesse artigo iremos explorar a implantação do Condomínio Paranoá Parque (2014), situado no cume da borda da Bacia do Paranoá, utilizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como limite para o entorno do Conjunto Urbano de Brasília, classificado como patrimônio mundial pela Unesco (1987). A partir da implantação da cidade a preocupação inicial sempre esteve na consolidação do projeto de Lucio Costa, caracterizado por seu Plano Piloto. Posteriormente com o relatório “Brasília Revisitada” (1987) de Lucio Costa, a ocupação de áreas adjacentes ao plano começou a ser formulada. Lucio Costa ressalta a presença do céu: “Como parte integrante e onipresente da própria concepção urbana – “os vazios” são por ele preenchidos; a cidade é deliberadamente aberta aos 360 graus do horizonte que a circunda” (COSTA, 1987, p.10), demonstrando uma preocupação com a preservação da paisagem envoltória. Importa perceber e problematizar como a gestão do patrimônio urbano é feita no Brasil, especificamente no caso de Brasília, uma cidade moderna que foi tombada com apenas 27 anos de existência e estando ainda, portanto, inacabada. Foi possível verificar que a gestão da paisagem urbana de Brasília ainda encontra dificuldades principalmente por uma falta de compatibilização entre a legislação de preservação e de planejamento urbano, de forma participativa, e que a noção de preservação do patrimônio urbano ainda persiste como uma disciplina isolada entre especialistas da área. A partir desta problemática, adotaremos como procedimento metodológico a análise do estudo de caso da implantação do condomínio Paranoá Parque e seus desdobramentos na paisagem urbana histórica de Brasília. O Condomínio mantém relações visuais, sociais e culturais com o conjunto moderno, além de estar situado dentro da área de entorno (buffer zone) implantada como critério de preservação deste.