Corpo, educação e subjetividade : processos de subjetivação de um corpo simbólico

Abstract

O objetivo central desta pesquisa foi investigar processos de subjetivação de um corpo simbólico. O corpo, aparentemente elemento universal, está distante de ter solucionado seu mistério. As diversas noções de pessoa e corpo, veiculadas às diferentes culturas, tradicionais ou contemporâneas, são singularizadas na subjetividade, gerando formas específicas de indivíduos vivenciarem sua realidade corpórea. O debate educativo em torno do corpo é unânime em compreender a necessidade de resgate do corpo em seu aspecto emocional, sensível, expressivo como formas de atender à complexidade humana, garantindo que ela se expresse nos espaços educativos com toda a sua potencialidade. Para a realização do estudo da subjetividade, em uma perspectiva cultural-histórica, foram utilizados os princípios da Epistemologia Qualitativa e o Método de Construção-interpretativa para análise das informações e, por três anos, foram realizados dois estudos de caso com dois participantes de pesquisa. Concluiu-se que o corpo pode ser subjetivado de formas diversas gerando formas distintas do indivíduo subjetivar a si mesmo. As formas de subjetivação dependem não apenas do corpo simbólico com quem se encontra o indivíduo, mas da história de vida da pessoa configurada em sua subjetividade. O presente trabalho alerta para a relevância das categorias sujeito e agente como formas de investigar o desenvolvimento da subjetividade em circunstâncias diversas. Nesse caso, no encontro de um ocidental com um sistema simbólico de origem asiática, em que uma forma específica de corpo é aprendida pelo ocidental. Compreendeu-se também que sensações, prazer, dor, aprazível, inaprazível e também as emoções não afetam diretamente o indivíduo. O modo como tais estados vão impactar a vida da pessoa depende da maneira como estes, sendo parte das produções culturais de um contexto, encontram-se configurados em sua subjetividade, gerando modos alternativos de subjetivar tais estados. Registrou-se também a emergência de recursos subjetivos, tais como modo somático de subjetivação, em que o indivíduo, ao encontrar-se com um sistema simbólico, no qual o corpo é situado, passa então a ter a corporeidade como integrante de suas reflexões. As reflexões ficam marcadas por aquilo que se sente, sendo valorizado o aspecto sensível, e se expressando em uma ética que busca ponderar os movimentos operados no mundo, tendo como base a compreensão de que tais ações são promotoras de contextos que afetam o indivíduo em sua subjetividade/corporeidade. A título de conclusão, se compreende a complexidade e criticidade necessárias ao disponibilizarmos culturas corporais nos processos educativos formais ou informais. Pois a subjetivação de tais corpos simbólicos acontece de diversas maneiras, fazendo com que o acompanhamento das formas de subjetivação do corpo seja considerado elemento essencial para analisar o potencial e a capacidade de práticas para favorecerem processos de desenvolvimento subjetivo.

The central objective of this research was to investigate processes of subjectivation of a symbolic body. The body, seemingly a universal element, is far from having solved its mystery. The various notions of person and body, conveyed through different traditional or contemporary cultures, are individualized in subjectivity, generating specific ways for individuals to experience their bodily reality. The educational debate surrounding the body unanimously understands the need to rescue the body in its emotional, sensitive, and expressive aspects as ways of addressing human complexity, ensuring that it can fully express itself in educational settings. To carry out the study of subjectivity from a cultural-historical perspective, the principles of Qualitative Epistemology and the Method of Interpretative Construction were used for data analysis. For three years, two case studies were conducted with two research participants. It was concluded that the body can be subjectivated in various ways, resulting in different forms of individual self-subjectivation. The forms of subjectivation depend not only on the symbolic body with which the individual encounters but also on the person's life history configured in their subjectivity. This work emphasizes the relevance of the categories "subject" and "agent" as ways to investigate the development of subjectivity under diverse circumstances. In this case, when a Westerner encounters a symbolic system of Asian origin, the Westerner learns a specific form of the body. It was also understood that sensations, pleasure, pain, pleasant, unpleasant, and emotions do not directly affect the individual. The way these states impact a person's life depends on how they are configured in their subjectivity as part of cultural productions in a given context, generating alternative ways of subjectivating such states. The emergence of subjective resources, such as a somatic mode of subjectivation, was also observed, in which the individual, when encountering a symbolic system where the body is situated, starts to consider corporeality as an integral part of their reflections. These reflections are marked by what is felt, valuing the sensitive aspect and expressing itself in an ethics that seeks to reflect on the actions performed in the world, based on the understanding that such actions influence the individual's subjectivity/corporeality. In conclusion, the complexity and criticality required when providing corporal cultures in formal or informal educational processes are understood. Subjectivating such symbolic bodies happens in various ways, making it essential to monitor the forms of bodily subjectivation to analyze the potential and capacity of practices to favor processes of subjective development.