Campo DC | Valor | Idioma |
dc.contributor.advisor | Orthof, Geraldo | - |
dc.contributor.author | Miranda, Letícia dos Santos | - |
dc.date.accessioned | 2023-04-11T20:03:12Z | - |
dc.date.available | 2023-04-11T20:03:12Z | - |
dc.date.issued | 2023-04-11 | - |
dc.date.submitted | 2022-10-26 | - |
dc.identifier.citation | MIRANDA, Letícia. Furacão tornado. 2022. 140 f., il. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) — Universidade de Brasília, Brasília, 2022. | pt_BR |
dc.identifier.uri | http://repositorio2.unb.br/jspui/handle/10482/45796 | - |
dc.description | Dissertação (mestrado) — Universidade de Brasília, Instituto de Artes, Departamento de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Brasília, 2022. | pt_BR |
dc.description.abstract | Vozinhas,
Como são caros os dias sem os sorrisos. Como seria bom ver
sorrir os dias com vocês do lado. Só me resta acenar, mandar
um beijo que colei na palma da mão e montar cenas nunca
vistas - dedico a vocês todas elas.
Não sei a cadência de suas vozes, mas sigo sussurrando seus
nomes e contando nossas semelhanças. Assim anuncio a
presença de suas vidas na minha. Avisto nossos medos e
receios. Por aí vou caducando a vida como quem arrisca o
que não tem (só assim vejo quem somos e fomos e ainda
seremos). Daqui parto. Tomo um barco feito por minhas
mãos. No risco, na rasura e no ato incessante de lançar um
olhar ao mundo, cato o que vejo. Digo, no presente, as
minhas ações. Nesse dizer me lanço. É impossível levar um
barco sem temporais, como bem diz Jards Macalé.
Vozinhas, vocês não me escutam e, agora, pensando bem,
pareço delirar falando no presente um presente que não
chega. O meu presente está contaminado com o passado de
suas vidas. Cotidianamente me contamino com o farfalhar
das noites. São tantas histórias desconhecidas e tantos rostos
esquecidos… começo daqui.
Partir para a coleta. Partir do infinitivo.
Invento tudo que não conheço e que hoje não consigo
conhecer.
Essa invenção só é possível porque coleto. A partir dos
objetos, das imagens, dos sons, das fibras que sobram, vou
montando um compilado de pequenas relíquias do presente
- esse tempo existe, e é por isso que coleto e monto e dedilho
as materialidades de hoje.
Coleto porque vocês se foram. Cato cada história enviesada
e mal contada. Cato toda e qualquer meia verdade cheia de
fantasias. Cavo, cato, recolho.
Danielle Magalhães, amiga preciosa e poeta que leio com
desejo de vida, escreveu certa vez: a história é feita/de
interrupções/ nada se começa/ ou se termina/ o fim tá dado/ todos os
dias/ o que resta/ é começar.
Fingir que se começa é um começo. Quando penso em
vocês, vejo um fio se desenrolar. Enxergo minhas manias e
minhas obsessões - colecionei pedrinhas, pintei pedrinhas,
vendi pedrinhas na escola. Há algum tipo de firmeza que
envolve meu nome. Uma firmeza que se tenta alegre. Mamãe
sempre me diz que escolheu o meu nome por causa do
significado. Qual o peso de um nome, vó?
Queria que pudesse me responder.
Fumaça e negrume. Essa é a nossa história. E eu a celebro.
Nessa alegria difícil.
Catar é uma alegria difícil.
Catando encontrei as linhas, os papéis, o furacão e o fundo
do mar. Catando encontrei as membranas, as estátuas, os
sustos, o número, as voltas de barco. Catando avistei sonhos,
nomes, nomenclaturas e nervuras.
Catar é uma alegria difícil.
Vozinhas, inventar é um modo de ver. A partir dessa ótica,
tento vê-las. Nosso encontro impossível é só uma parte
desse filtro. Com vocês aprendi a ser escavadorainvestigadora-curiosa. Alarguei meus dedos e meus ouvidos.
Entre palavras e imagens, construo minha presença
escorregadia e impregnada de ontem, hoje e amanhã - ali
sou, mas nunca inteira, não me interessa a completude; vou
aos fragmentos porque a escassez me alimenta. Entendi que
vejo poucas cenas (todas elas a partir de uma fresta). Entendi
que pouco vejo e pouco sei. E isso é suficiente. O pouco.
Fico quieta, quase emudecida, diante do que alcanço. Os
encantos são assombros (chegam todos pelas rachaduras).
Ver é encontrar o turvo.
Li um poema da Simone Homem de Mello que dizia assim:
Das catedrais em ogivas talvez/ só mesmo alguma luz vitral:/ pois
cada rosto a réstia do sol/ a perfurar o turvo da nuvem,/ e a escrita,
ela,/ e quem dela dizia/ se inscrevia em seu dizer. Vejo feixes de luz
que cortam meu caminho. O que é (ou quem é) a escrita pra
mim? Os traços inscritos em mim. Talvez seja isso - palavra
e imagem são partes de uma mesma camada.
Vozinhas, traço caminhos com ajuda das mãos. O gesto me
ensinou a andar por essas terras estranhas.
Eu vou gritar o nome de vocês, mas vocês não virão. É só
um gesto. É só uma voz com saudade. E então, só mais
algumas voltas ao redor do Sol, só mais algumas miragens,
imagens, palavras, versos e páginas...
O futuro é lá atrás.
Com amor,
Letícia | pt_BR |
dc.language.iso | Português | pt_BR |
dc.rights | Acesso Aberto | pt_BR |
dc.title | Furacão tornado | pt_BR |
dc.type | Dissertação | pt_BR |
dc.subject.keyword | Narrativa | pt_BR |
dc.subject.keyword | Livro | pt_BR |
dc.subject.keyword | Livro de artista | pt_BR |
dc.description.unidade | Instituto de Artes (IdA) | pt_BR |
dc.description.ppg | Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais | pt_BR |
Aparece nas coleções: | Teses, dissertações e produtos pós-doutorado
|