Emergência da escrita de mulheres na literatura amazonense contemporânea (2007-2018)

Abstract

Esta tese investiga a emergência da escrita de mulheres na literatura amazonense contemporânea (2007-2018). Inicialmente, recuperamos as obras Ritmos de Inquieta Alegria (1998 [1935]), de Violeta Branca; Alameda (1998 [1963]), de Astrid Cabral; e Marari: a Princesinha dos Manaus (1996 [1972]), de Albertina Costa Rego de Albuquerque, consideradas fundadoras da literatura escrita por mulheres no Amazonas. Em seguida, analisamos cinco obras contemporâneas Ay Kakyritama: eu moro na cidade (2018), de Márcia Wayna Kambeba; O Encontro das Águas (2011), de Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro; Entre Nós Dois... (2014), de Izis Negreiros; Histórias do Rio Negro (2007), de Vera do Val; e O Poder da Fé (2016), de Sandra Godinho. O objetivo geral foi verificar de que maneira essas mulheres escritoras brasileiras contemporâneas adotaram a escrita literária como estratégia na construção de sua identidade social, identitária, intelectual, passando a condição de sujeito e objeto de suas escrituras. Para tanto, buscamos compreender as estratégias narrativas adotadas por essas autoras, e de que modo tais estratégias intencionam desconstruir as representações das personagens femininas, já fixadas pela tradição literária do século XIX, as quais ainda persistem em algumas obras brasileiras dos séculos XX e XXI. Tencionamos, também, verificar até que ponto essas autoras evidenciam uma postura crítica e/ou preconceituosa frente à representação das protagonistas femininas por elas elaboradas e se essas mulheres ficcionais são caracterizadas a partir das transformações ocorridas no campo intelectual e artísticoliterário brasileiro. Por fim, pretendemos, ainda, identificar de que maneira se constitui a relação entre representação, escrita feminina, produção literária, divulgação e recepção das obras contemporâneas publicadas numa região literária periférica. Como fundamentação teórica, adotamos as obras de Duarte (2003), Muzart (2000; 2004; 2009), Beauvoir (2019), Figueiredo (2020), Spivak (2010), hooks (2019), Lerner (2019), Perrot (2021), Said (1995), Bhabha (2014), Hall (2008), assim como os estudos da literatura brasileira contemporânea realizados por Dalcastagnè (2012), dentre outros. Também são citadas outras obras de pesquisadoras e pesquisadores amazônicos que versam sobre os pontos desenvolvidos no decorrer de nossa pesquisa. Foi possível concluir que a presença da figura feminina como protagonista em um número significativo de romances amazônicos é indício de transformações na literatura contemporânea escrita por mulheres que se tornam sujeito/objeto de suas próprias escrituras.