Desenvolvimento de protótipos de biopesticidas a partir do alho para o controle vetorial de Aedes aegypti

Abstract

O alho (Allium sativum L. - Amaryllidaceae) é um condimento culinário utilizado há séculos por diversas populações. Neste trabalho foi investigado o potencial do uso do alho para o controle do mais importante vetor de arboviroses no Brasil, o mosquito Aedes aegypti L. (Diptera: Culicidae). O óleo de alho sintético comercial foi caracterizado utilizando cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de massas (GC-MS) e cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC-UV, 210 nm). O óleo de alho foi testado em ovos, larvas, pupas e mosquitos adultos para determinação da atividade inseticida e repelente. Ensaios pupicida e larvicida em diferentes recipientes e a monitorização na solução teste foram realizados para aferir o efeito da volatilização do óleo de alho na atividade. Os compostos majoritários do óleo de alho foram isolados, testados em larvas e pupas e utilizados para enriquecimento do óleo de alho, que foi avaliados para determinação da melhor composição para atividade larvicida e pupicida. Teste em condições de semi-campo foram realizados para larvas e pupas, e um protocolo de atividade repelente espacial em escala ampliada foi desenvolvido e testado com o óleo de alho. Nanoemulsões de óleo de alho com CDots (nanopartículas de carbono), foram desenvolvidas e avaliadas em diferentes condições de temperatura ao longo de três meses. A nanoemulsão com melhor estabilidade foi escalonada em reator químico piloto e submetida a teste em campo no Instituto Central de Ciências da UnB após avaliação em testes de toxicidade. O óleo de alho utilizado é composto majoritariamente por trissulfeto (63,0%) e dissulfeto (26,7%) de dialila. A CL50 do óleo de alho foi de 1,6 ppm em larvas em 24 h, chegando a menos de 1,0 ppm em 72 h, e de 20,3 ppm em pupas. O tipo de recipiente utilizado nos experimentos altera significativamente a atividade larvicida devido às diferentes taxas de volatilização. A potente atividade larvicida e pupicida se repetiram nos ensaios em condições de semi-campo. O óleo de alho foi capaz de matar e repelir os insetos adultos no teste repelente espacial em condições de campo. Ensaios em peixe-zebra demonstraram que o óleo de alho tem potencial embriotóxico nas concentrações mais altas, com CL50 de 60.7 ppm. O uso de CDots nas nanoemulsões desenvolvidas conferiu homogeneidade à formulação, e permitiram sua solubilidade em água. As nanoemulsões desenvolvidas foram estáveis à temperatura ambiente e em geladeira, e aquelas mais promissoras mantiveram ou incrementaram a atividade ovicida, larvicida e pupicida do óleo de alho. A avaliação toxicológica da formulação sugere um perfil de segurança adequado, de baixa toxicidade oral, dérmica e ocular. No estudo preliminar de campo o produto chegou a causar uma redução pontual de 60% da quantidade de fêmeas de Ae. aegypti na área tratada em relação à área não tratada. O potencial da nanoformulação desenvolvida para o controle vetorial do Ae. aegypti precisa ser melhor investigado em um estudo mais amplo que inclua também uma avaliação estatística dos resultados.