Uma questão de perspectiva : os enfoques especialista e local sobre o contexto de saúde e ambiente na região do médio Tapajós, Amazônia brasileira

Abstract

O presente estudo teve como objetivo realizar um diagnóstico sobre a problemática de saúde e ambiente na região de confluência do Médio Tapajós com a Transamazônica, a partir das perspectivas dos especialistas do Projeto PLUPH (Poor land use, poor health) e de duas comunidades locais, uma ribeirinha e um assentamento rural. O procedimento metodológico da pesquisa in loco priorizou o debate com os principais grupos sociais das duas comunidades, com o objetivo de elicitar os conhecimentos locais sobre o tema em estudo. Por meio de uma ferramenta de representação diagramática, as percepções locais e especialistas foram resumidas de maneira a apresentar sistemicamente os principais elementos e relações das diversas dimensões que compõem a dinâmica da problemática de saúde e ambiente. Os diagramas permitiram realizar uma análise comparativa de saberes, tornando possível a reflexão sobre a proposta de pesquisa-ação do Projeto PLUPH no que se refere: (i) aos encontros e desencontros entre as problemáticas locais e especialista; (ii) à inclusão das prioridades locais na pesquisa, visando à perpetuação das ações de intervenção; (iii) à prospecção de atividades do projeto buscando compartilhar as problemáticas locais e especialista, por meio do diálogo entre os dois sistemas de conhecimento. Os resultados demonstraram que as percepções locais e especialistas sobre a problemática de saúde e ambiente são distintas, inclusive levando à necessidade de contemplar, no caso das comunidades locais, outras questões, que não de saúde e ambiente, para compreender o contexto local. Foram notadas diversas peculiaridades nas percepções das comunidades que não fazem parte das prioridades especialistas, e vice-versa, em relação ao meio ambiente, às atividades produtivas e, principalmente, à saúde. Os resultados apontaram também diferenças significativas entre as comunidades e entre os grupos sociais de cada uma delas. Entretanto, em alguns pontos, especialistas e comunidades compartilham problemas, principalmente na esfera ambiental. Com base nessas constatações, podese concluir que as prioridades locais devem compor a agenda de um projeto de pesquisa-ação, cuja etapa inicial seria um diagnóstico realizado a partir das percepções das comunidades locais sobre o contexto previamente examinado pelos especialistas. As etapas seguintes devem primar pelo diálogo contínuo entre as partes envolvidas, visando à efetiva participação das comunidades como protagonistas de mudanças. Essas atividades podem ser instrumentalizadas por meio das representações diagramáticas que, além de contribuírem na fase de diagnóstico, podem ser utilizadas num processo virtuoso de elaboração e reelaboração da problemática de pesquisa por meio do diálogo entre especialistas e comunidades locais.