Do povo que vive ao intelectual que explica : as expectativas frustradas de pessoas comuns em cartas ao presidente FHC (1998 – 1999)

Abstract

Este é um trabalho que analisa cinquenta cartas escritas por pessoas comuns ao então presidente da República Fernando Henrique Cardoso entre 1998 e 1999. Passando por questões de representatividade e o bem comum, essa pesquisa se concentra em compreender as frustrações direcionadas ao Fernando Henrique e explicar o que leva os missivistas a deixarem de acreditar nas instituições estatais em geral e nos representantes em específico. Para isso, se contextualiza os argumentos dos missivistas com dados socioeconômicos do Brasil na virada do milênio, analisa as bases retóricas utilizadas pelos missivistas, bem como se destrincha argumentos e posicionamentos defendidos pelo presidente. Em conclusão, pessoas descontentes escrevem ao presidente por se sentirem abandonadas pelo sistema e esperam que o governante preencha as lacunas deixadas pelo Estado, mas ao perceberem que não podem contar com Fernando Henrique para representá-las e que as expectativas eleitorais não se concretizariam, elas se decepcionam. A frustração aparece como agravante nos missivistas que atribuem as ações presidenciais como origem central dos seus problemas, embasada por argumentos de injustiça praticada pelo presidente para favorecer grupos com maior poder aquisitivo.