A modernização do processo seletivo na Assistência Estudantil da Universidade de Brasília (UnB) : análises e reflexões sobre seus efeitos no período de 2010 a 2019

Abstract

O presente estudo objetiva analisar os efeitos da modernização do processo seletivo da Assistência Estudantil da UnB empreendido entre os anos de 2010 e 2019, período de ampliação (2010-2015) e declínio (2016-2019) do financiamento da política ante um contexto de demanda crescente. A “modernização do processo”, concebida como uma das respostas à necessidade de lidar com a demanda crescente e com as exigências de melhoria do processo seletivo conforme auditoria externa da Controladoria Geral da União (CGU), foi apreendida a partir de três eixos: [1] a substituição do sistema utilizado para realizar a seleção dos estudantes; [2] mudanças no fluxo da avaliação social e na comunicação entre Assistentes Sociais e discentes; [3] a revisão de critérios e documentos da avaliação social. Para tanto buscamos indicar os principais momentos e transformações desse contexto de forma a permitir uma interpretação mais precisa dos dados. As informações demonstraram que a modernização aumentou a produtividade, mas não logrou êxito na melhoria das taxas de conclusão dos processos. O problema de comunicação que inviabilizava a inscrição de um grande número de estudantes foi deslocado, a partir da mudança no fluxo de atendimento, para o âmbito da interlocução entre Assistentes Sociais e estudantes o que implicou um aumento nas desclassificações. Os efeitos da modernização sobre o perfil dos estudantes beneficiados foi contraditório, de um lado, a assimetria entre estudantes do sexo masculino e do sexo feminino aparentemente foi reduzida. De outro lado, a modernização favoreceu estudantes brancos em detrimento de pardos. Do ponto de vista dos profissionais, os ganhos na organização do processo ocorreram mediante intensificação do trabalho uma vez que a atividade de orientação oral converteu-se em registro escrito. Os resultados do ponto de vista da gestão foram satisfatórios, pois permitiram sanar os problemas indicados pela auditoria externa, aumentaram a produtividade e a capacidade de controle sobre o trabalho da equipe. Embora os dados, as análises empreendidas e a vivência do pesquisador não nos permitam afirmar que houve uma piora do processo seletivo, em termos quantitativos, é possível afirmar que as mudanças empreendidas apontam para uma reorientação ético-política que tende, em termos qualitativos, a favorecer a perspectiva do mérito em detrimento da equidade, reforçando uma seletividade fria e indiferente que tende a responsabilizar os estudantes pelas suas dificuldades. Dessa forma, a modernização compatibilizou-se com a perspectiva produtivista, acarretando uma transformação conservadora, que concentrou poder institucional e reduziu o potencial comunicativo dos processos de avaliação socioeconômica, contrapondo-se aos objetivos ético-políticos do Serviço Social e principiológicos da Comunicação Pública.