A apresentação de si nos aplicativos de relacionamentos : um estudo de perfis do Tinder no Brasil

Abstract

A presente dissertação tem como objetivo discutir a performance do eu no aplicativo de relacionamentos Tinder, buscando identificar possíveis padrões de comportamento na autoapresentação de seus usuários. Em especifico, visa investigar se há diferenças entre os gêneros na escolha dos atributos valorados, como estratégia para conquista de parceiros afetivos, amorosos e/ou sexuais. A partir da concepção teórica de Erving Goffman sobre a dramaturgia da vida cotidiana e o gerenciamento de impressões, considera-se que a autoapresentação no Tinder envolve uma manipulação estratégica da construção de si, orientada pela crença em uma imagem considerada atraente. A pesquisa parte da hipótese de que, diante do avanço nas pautas feministas e do impacto sobre a igualdade de gênero nas últimas décadas, inclusive no campo amoroso e sexual, os perfis femininos e masculinos apresentariam características aproximadas na busca por validação e reconhecimento social. Nesse contexto, à luz de reflexões teóricas sobre o impacto do capitalismo avançado na subjetividade, supõe-se que a descrição da autoidentidade, tanto feminina quanto masculina, seria pautada por estratégias mercadológicas, competitivas e individualistas. Para a investigação, foram examinadas as preferências de aproximadamente 500 mil perfis de usuários do Tinder de diversos estados do Brasil. A coleta dos dados foi realizada com o auxílio da Tecnologia de Informação. Foram avaliadas também 500 fotografias como complementação às discussões sobre as preferências. Os resultados da pesquisa empírica revelam que ambos os gêneros projetam, na autodescrição, narrativas simbólicas de uma subjetividade pautada pelo “empreendedorismo de si”, destacando aspectos positivos do eu, interesses individualistas e padrões estéticos associados a corpos fitness. Apesar dessas semelhanças entre perfis femininos e masculinos, os dados também evidenciam a persistência de estereótipos tradicionais de papéis atribuídos a cada gênero, os quais ainda continuam desempenhando um papel central na construção da autoimagem considerada atraente por mulheres e homens.