Desafios e possibilidades da mobilidade ativa promotora da saúde no contexto escolar e a composição de uma rede intersetorial

Abstract

A mobilidade ativa é o principal modo de deslocamento adotado pelos brasileiros, sendo uma prática potencialmente saudável, sustentável e socialmente justa. Quando realizada como um direito social, pode se tornar uma importante estratégia de promoção da saúde. No entanto, no Brasil, a realização dessa prática corporal enfrenta diversos desafios, como por exemplo as iniquidades de condições em que ela é praticada. A presente tese reflete sobre os desafios e as possibilidades da mobilidade ativa no contexto escolar, além de buscar favorecer a construção de uma rede intersetorial para fortalecer essa prática nas escolas. Para tecer tais análises, se apoia no referencial teórico da promoção da saúde e da determinação social da saúde, buscando articular os campos científicos da Educação Física e da Saúde Coletiva. Apresenta ainda políticas e programas que dialogam com a temática e que estimulam a mobilidade ativa como uma prática corporal culturalmente desejável e socialmente valorizada, especialmente no ambiente escolar, como é o caso do Programa Saúde na Escola. Este Programa tem papel fundamental na integração entre os setores da saúde e da educação, fomentando a atuação crítica e promotora da saúde dos professores de educação física em ambos os setores. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa apoiada no método participativo, de modo que a pesquisadora foi uma facilitadora para o encontro de atores chaves, representantes de diversos setores: Educação, Saúde, Esportes, Planejamento Urbano, Segurança Pública, Trânsito e Transporte, além de pesquisadores universitários e professores de educação física da rede municipal de ensino de Anápolis, GO. Os representantes setoriais foram indicados pelos gestores após uma reunião de sensibilização e convite à participação na pesquisa. Cada representante participou de uma entrevista semiestruturada e foi convidado para cinco reuniões coletivas visando debater o tema e identificar desafios (fraquezas e ameaças) e possibilidades (forças e oportunidades) para fomentar a mobilidade ativa como estratégia de promoção da saúde nas escolas e para induzir a constituição de uma rede intersetorial com esse propósito. Em síntese, os resultados foram: os desafios para a constituição da rede intersetorial foram reportados na categoria de desenvolvimento de habilidades individuais, reorientação dos serviços e políticas públicas; as potencialidades permearam a participação comunitária e a reestruturação dos serviços. Quanto ao estímulo da mobilidade ativa no contexto escolar, as principais barreiras apontadas foram a criação de ambientes adequados e a ação comunitária; as possibilidades contemplaram o fortalecimento de ações comunitárias, a implementação de políticas públicas e a criação de ambientes saudáveis. Embora a participação dos setores tenha sido limitada nas reuniões, a aproximação entre os atores, setores e campos do conhecimento foi um avanço para compreender melhor a mobilidade ativa escolar, elencando desafios e possibilidades dessa prática e permitindo elaborar recomendações contextualizadas e articuladas às agendas públicas. Uma Carta de intenções foi elaborada e um Seminário Municipal de Mobilidade Ativa Escolar foi realizado como forma de socializar os achados da pesquisa, refletir sobre o tema e fortalecer essa pauta. A participação dos professores de educação física da rede pública de Anápolis, GO, no Seminário aproximou os debates às realidades locais visando estimular a mobilidade ativa no contexto escolar.