Amazônia e globalização : perversidades e fluidez dos usos do território na constituição dos lugares – fronteira Brasil-Bolívia

Abstract

A presente pesquisa analisa uma singularidade fronteiriça na América Latina, a fronteira Brasil – Bolívia localizada na região do Alto Acre na Amazônia. Esse território é formado por uma conurbação entre três cidades fronteiriças: Brasiléia, Epitaciolândia e Cobija, no qual as duas primeiras são municípios do sudoeste do Acre, Brasil, e a terceira é capital do Departamento de Pando, norte da Bolívia. Denominada Alto Acre da Amazônia, essa região se tornou destino de distintos migrantes em busca do látex, matéria-prima retirada da árvore seringueira (hevea brasiliensis), para a produção de borracha; que se tornou essencial no contexto mundial da industrialização no final do século XIX e início do século XX. Esse ciclo econômico da borracha constituiu povos brasileiros e bolivianos de forte identidade amazônica, sendo compostos de indígenas locais e de migrantes que se adaptaram para resistir no território. De forma a caracterizar os atuais usos do território na fronteira Brasil-Bolívia ativados após os ciclos da borracha, objetivo central dessa pesquisa, utilizar-se-á da metodologia de análise do espaço geográfico e dos usos do território proposta por Milton Santos e seus seguidores. O conceito de território usado é o principal conceito que rege as análises acerca dos diversos usos do território nessa fronteira em estudo, evidenciando-se os territórios como recurso e como abrigo na fronteira. Os resultados alcançados revelam usos do território contraditórios ao lugar na Amazônia, ou seja, revela usos do território exógenos e orientados pelo capital internacional, sobretudo no que tange a sobreposição da floresta por pastagens e economias agropecuárias. Entretanto há, também, resultados que apontam para iniciativas de cooperação entre agroextrativistas e entre os povos fronteiriços urbanos e rural-florestais que resistem nesse emblemático território de fronteira latino-americana na Amazônia.