Propriedades químicas do cimento ah plus biocerâmico e seu efeito na osteoclastogênese : um estudo in vitro

Abstract

O tratamento endodôntico é composto por diversas etapas fundamentais, que vão desde a limpeza e modelagem do sistema de canais radiculares até a fase final de obturação, etapas as quais são cruciais para o sucesso a longo prazo do tratamento. Além de propriedades de selamento adequadas, o material obturador de canais radiculares deve estimular ou induzir o reparo dos tecidos remanescentes nos sistemas de canais radiculares. Nesse contexto, os cimentos obturadores de canais radiculares evoluíram em sua composição ao longo do tempo, onde os cimentos biocerâmicos emergiram como uma inovação significativa na estimulação à mineralização e osteogênese. A literatura demonstra uma interação positiva desse tipo de material com os tecidos circundantes, contribuindo para a reparação e regeneração óssea, que é de extrema importância especialmente no tratamento de casos com diagnóstico de necrose e lesão apical. O AH Plus Biocerâmico (AHP-BIO) é um cimento biocerâmico, composto principalmente por dióxido de zircônia e silicato tricálcico que surgiu como uma melhoria de sua formulação original, associando as boas propriedades que o AH Plus apresentava com a bioatividade de um cimento biocerâmico. Tal cimento apresenta em sua formulação baixa proporção de silicatos de cálcio e a presença de dimetilsulfóxido e traços de carbonato de lítio, alterações que podem impactar no seu efeito. Assim, este estudo objetivou realizar a investigação de propriedades químicas e do efeito biológico do AHP-BIO, um cimento endodôntico lançado no ano de 2022. O trabalho foi estruturado em três capítulos. No primeiro capítulo, realizou-se uma revisão da literatura sobre os cimentos biocerâmicos, destacando suas características, composição e vantagens para o tratamento endodôntico. O segundo capítulo avaliou as propriedades químicas do AHP-BIO, revelando sua capacidade de liberação de íons de cálcio e manutenção de um pH alcalino, fatores associados à biocompatibilidade e potencial mineralizador do material. No terceiro capítulo, foi estudado o impacto do AHP-BIO na osteoclastogênese em culturas de células RAW 264.7. Os resultados indicaram que o AHP-BIO aumentou a expressão de genes envolvidos no processo de reabsorção óssea, e inibiu a via Wnt com baixa expressão das proteínas c-Myc e MMP-7. Além disso, observou-se um aumento na quantidade de osteoclastos multinucleados, sugerindo que o AHP-BIO estimula a atividade osteoclástica. Os achados evidenciam o potencial do AHP-BIO como material endodôntico, mas indicam cautela em casos com necessidade de controle da osteoclastogênese. Este estudo contribui assim para a seleção clínica criteriosa de cimentos biocerâmicos com base em evidências científicas de suas propriedades e efeitos biológicos.